CAMPEÃO DO CENTENÁRIO

 Título histórico do América e travessia do Atlântico Sul

 



Jogos interrompidos pelos mais diversos motivos, principalmente pelo fato de o campo ter ficado escuro, como o clássico América x Sport da primeira rodada, que terminaria decidindo o campeonato; partidas anuladas, como a que envolveu o Torre e o novato Equador;  entrega de pontos – Equador e Santa Cruz ao Sport, e Peres ao Náutico; encontro não realizado, devido ao desinteresse  dos dois clubes – Flamengo e Santa Cruz – após adiamento provocado pelas chuvas, que caíram intensamente. Tudo isso marcou o Campeonato Pernambucano de 1922, realizado sob intenso inverno.

            O certame foi disputado em turno único. Assim houve apenas os jogos de ida. Mais uma vez, Sport e América surgiam como candidatos a levar a taça para casa. Os rubro-negros pretendiam interromper a marcha de seu maior rival, que buscava o segundo bicampeonato, pois tinham obtido tal façanha no biênio 1918 /19.

A Liga Pernambucana de Desportos Terrestres, hoje Federação Pernambucana de Futebol, já havia instituído o sistema de dois ou mais jogos por rodada. Logo de saída, Náutico x Centro Peres deixou de ser disputado por causa do mau tempo. Tendo sido marcada para outra data, a partida terminou não sendo realizada porque o Peres entregou os pontos. Vitória do Náutico, portanto, por WO. No mesmo dia, 7 de maio, o América estava derrotando o Sport pela contagem de 2 x 1, tendo sido o encontro suspenso por falta de iluminação. Na época invernosa, como ainda acontece hoje, escurece mais cedo nesta Região, e os campos ainda não tinham iluminação artificial.

            A direção da Liga determinou que os oito minutos restantes fossem disputados mais adiante, depois do cumprimento da tabela. Assim, rubro-negros e alviverdes voltaram a campo em 19 de novembro. Local, Jaqueira, chamado de América Parque, onde a partida estava sendo disputada ao ser interrompida.

Embora estivesse programado apenas um restinho de jogo, um grande público compareceu. É que estava em cena o pomposo título de Campeão do Centenário. O América, que tinha sofrido uma derrota em meio à sua jornada, ao perder para o Torre por 1 x 0, chegava àquele momento, com 10 pontos ganhos, enquanto o Sport tinha 11, sem incluir, é claro, a contagem daquela partida, que os americanos estavam ganhando por 2 x 1.

            Foram instantes dramáticos. O Sport lançou-se furiosamente ao ataque. Se conseguisse pelo menos empatar o jogo, ficaria com 12 pontos, e deixaria o gramado festejando a conquista de mais um título. Já o América defendia-se com unhas e dentes, uma vez que se o placar fosse mantido, passaria a somar 12 pontos e faria a festa, pois o Sport permaneceria com 11. E foi o que ocorreu. Final de jogo, vitória do América por 2 x 1. A torcida do Periquito fez muito barulho na comemoração da conquista que ainda é lembrada, quando a imprensa se refere ao seu clube como o Campeão do Centenário.

 

            AMÉRICA 2 X 1 SPORT

            Data: 07/05/1922

            Local: América Parque, Jaqueira

            Árbitro: Gastão Bittencourt

            Gols: Araújo (2) – América; Péricles – Sport

AMÉRICA (Campeão)

Nozinho; Rômulo e Cunha Lima; Lindolpho, Licor e Faustino; Meirinha, Fabinho, Zé Tasso, Juju e Matuto.

SPORT (Vice-campeão)

            Mário Franco; Alarcon a Chalmers;  M. Paranhos, Jack e Pedro Sá; Mathias Adour, Benedicto, Geraldo Bastos,  Péricles Caldas e Aluísio Caldas.

       

JOGOS DO CAMPEÃO

07/05 América  2 x 1 Sport                       Jaqueira

Obs.: jogo suspenso, faltando oito minutos para o término. Concluído em 19/11, o placar se manteve inalterado.

21/05 América 4 x 0 Peres                       Jaqueira

04/06  América 2 x 1 Náutico        Jaqueira

23/07  América 3 x 1 Equador      Jaqueira

06/08  América 0 x 1 Torre             Jaqueira

22/10  América 2 x 1 Santa Cruz Jaqueira

05/11  América 4 x 2 Flamengo    Jaqueira

 

AVIADORES PORTUGUESES

O ano de 1922 também ficou marcado em Pernambuco pela chegada ao  Recife dos aviadores portugueses Carlos Viegas GAGO COUTINHO e Artur  de SACADURA Freire CABRAL, que faziam a primeira travessia aérea do Atlântico, entre a Europa e a América do Sul. O hidroavião Lusitânia, em que viajavam, amerissou na capital pernambucana em 5 de junho.

Tendo saído de Lisboa em 30 de março, a dupla chegou ao Rio de Janeiro, ponto final de sua viagem, em 17 de junho após percorrer o seguinte roteiro:

Lisboa

Las Palmas (Ilhas Canárias)

Gando

São Vicente

São Tiago

Penedos de São Pedro e São Paulo

Fernando de Noronha

Recife

Salvador

Porto Seguro

Vitória

Rio de Janeiro

O feito heroico é lembrado por um monumento existente na Praça Dezessete, no centro da capital pernambucana, perto do ponto do local da chegada.

Essa rota, percorrida diariamente por equipes e atletas das mais diversas modalidades esportivas rumo às inúmeras competições que se realizam mundo afora, na época exigiu grandes sacrifícios dos dois ícones da aviação lusa.

 

Comentários