“Foi um dos maiores cobradores de tiros
livres que meus olhos já viram. Eu tive a oportunidade de jogar contra alguns
dos principais batedores de faltas do Brasil, entre eles Rivelino, Zico, Paulo
César Caju, e treinar contra aquele que tinha o chute mais potente que eu já vi
no futebol brasileiro. Ele veio do Recife, onde fora apelidado de ‘Canhão da
Ilha’ pela torcida do Sport. Foi precedido no Rio pelo seu irmão mais famoso,
Manga, goleiro do Botafogo. Em uma única oportunidade me confrontei contra ele
em um treino do América, onde jogávamos. O nosso técnico era Gentil Cardoso, que para não deixar o costume
de jamais perder treinos, marcou um pênalti a favor dos titulares contra os
aspirantes. Preparei-me para a defesa sem nenhuma convicção. Escolhi um lado e
pulei pra lá. A bomba que saiu dos pés de Alemão, explodiu na minha mão direita
e a bola saiu mansa pela linha de fundo. Levantei-me com intensas dores no
pulso e pedi assistência médica. Ao meu lado, Gentil comentou: ‘Ô goleirinho!
Você tinha que meter a mão, né? Agora, aguenta!’
Foi contra o Fluminense, num jogo
realizado nas Laranjeiras que eu presenciei o estrago que a perna direita do
zagueiro era capaz de fazer. Em três oportunidades, Jairo, goleiro tricolor,
ajeitou a barreira do lado direito da sua meta. Alemão, que tomava uma
distância quilométrica para chutar, nas duas primeiras tentativas, mirou e
acertou o mesmo homem na barreira, colocando-o a nocaute. Na terceira cobrança,
Jairo só escutou o barulhinho que a bola faz ao estufar as redes. A bola passou
no meio da barreira.
O cara que levou as duas
primeiras porradas se agachou, permitindo passagem para o pombo sem asas.
Afinal, era louco, ‘ma non tropo’. Depois, esta arma mortal foi anulada pela
esperteza do jogador Almir, que inventou a barreira antes da bola. Sabendo que
a coordenação e a precisão do chute do pernambucano dependiam exatamente da
distância que ele tomava, Almir * posicionou-se nove passos antes da bola,
obrigando o zagueiro a se desviar do obstáculo antes de chegar para o arremate,
perdendo assim a sua eficiência e potência.
Esta prática passou a ser adotada por
todos os adversários do Mequinha e os chutes do Alemão nunca mais foram os
mesmos. Mas, ainda haveria uma mostra da potência do seu chute. O
Torneio-Início carioca de 1966 foi decidido em cobranças de pênaltis pelo
Fluminense e pelo América. Na época, cada cobrador batia uma série de três
penalidades máximas. Assim, Gilson Nunes, pelo Fluminense, e Alemão iniciaram a
disputa. Gilson, habilidosíssimo na perna esquerda, batia firme e colocado
longe do alcance do goleiro Ari. Bola num canto, goleiro do outro. Alemão, se
colocava antes da meia-lua da grande área. Partia em velocidade e disparava um
bólido no meio do gol, Edson Borracha não esboçava sequer a defesa. A bola
simplesmente o atravessava. O público, no Maracanã, delirava. Não me lembro
quantas séries cada um cobrou. O único pênalti perdido pelo Alemão e que
determinou a vitória do time das Laranjeiras, foi no mínimo extraordinário. A
bola chutada subiu alguns centímetros e chocou-se violentamente contra o
travessão, indo parar no meio de campo.”
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Antes
de Alemão ir jogar no Rio, o técnico Duque, dirigindo o Náutico, usou da mesma
artimanha para dificultar a distância que o zagueiro tomava.
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