Campeão do Centenário, um título histórico
LENIVALDO
ARAGÃO
Jogos interrompidos pelos mais diversos motivos, principalmente pelo fato de o campo ter ficado escuro, como no clássico América x Sport, da primeira rodada, que terminaria decidindo o campeonato. Houve também jogos anulados, a exemplo do encontro do Torre com o novato Equador. Verificou-se ao mesmo tempo a simples entrega de pontos. Equador e Santa Cruz entregaram ao adversário os dois pontos que deveriam disputar com o Sport. Aconteceu a mesma coisa ao Peres em relação ao Náutico. Para completar, cancelamento de jogo, devido ao desinteresse dos dois clubes. Exemplo, Flamengo x Santa Cruz após adiamento provocado pelas chuvas, que caíram intensamente. Todas essas anomalias marcaram o Campeonato Pernambucano de 1922, disputado sob intenso inverno.
O General Inverno, que duas décadas mais tarde, durante a segunda Guerra Mundial, terminaria provocando o fracasso das tropas de Hitler na sua incursão pela União Soviética, deu as cartas no nosso campeonato, só que em proporções bem menores, justamente no ano em que o Brasil comemorava o centenário do Grito do Ypiranga.
O América, depois de ter sido bicampeão em 1918/19, deixou de disputar o certame de 1920, porém, ao retornar em 1921 tornou-se detentor da hegemonia no futebol de Pernambuco pela terceira vez. Em 1922, portanto, tentava seu segundo Bi. O campeonato foi disputado em um turno único. Assim, tivemos apenas os jogos de ida.
Mais
uma vez, Sport e América surgiam como candidatos ao título. Os rubro-negros
pretendiam interromper a marcha de seu maior rival. A Liga Sportiva
Pernambucana (LSP), que regia a competição, já tinha instituído o sistema de
dois ou mais jogos por rodada. Logo de saída, Náutico x Centro Peres deixou de
ser disputado por causa do mau tempo. Tendo sido marcada para outra data, a
partida terminou não sendo realizada porque o Peres entregou os pontos. Vitória
do Náutico, portanto, por WO.
No
mesmo dia, 7 de maio, o América estava derrotando o Sport pela contagem de 2 x
1, tendo sido o encontro suspenso por falta de iluminação. Na época invernosa,
como se sabe, escurece mais cedo nesta Região, e os campos ainda não tinham luz
artificial.
A direção da Liga determinou que os
oito minutos restantes fossem disputados mais adiante, depois do cumprimento da
tabela. Assim, rubro-negros e alviverdes voltaram a campo em 19 de novembro.
Local, Jaqueira, chamado de América Parque, onde a partida estava sendo
disputada ao ser interrompida. Embora estivesse programado apenas um restinho
de jogo, um grande público compareceu. É que estava em cena o pomposo título de
Campeão do Centenário. O América, que sofrera uma derrota em meio à sua
jornada, ao perder para o Torre por 1 x 0, chegava àquele momento, com 10
pontos ganhos, enquanto o Sport tinha 11, sem incluir, é claro, os pontos
daquela partida, que os americanos estavam ganhando por 2 x 1.
Foram instantes dramáticos. O Sport
lançou-se furiosamente ao ataque. Se conseguisse pelo menos empatar o jogo,
ficaria com 12 pontos, e deixaria o gramado festejando a conquista de mais um
título. Já o América defendia-se com unhas e dentes, uma vez que se o placar
fosse mantido, passaria a somar 12 pontos e levantaria a taça, pois o Sport
permaneceria com 11. E foi o que ocorreu. Final de jogo, vitória do América por
2 x
AMÉRICA 2 X 1 SPORT
Data: 07/05/1922
Local: América Parque, Jaqueira
Árbitro: Gastão Bittencourt
Gols:
Araújo (2) – América, e Péricles – Sport
América (Campeão)
Nozinho;
Rômulo e Cunha Lima; Lindolpho, Licor e Faustino; Meirinha, Fabinho, Zé Tasso,
Juju e Matuto.
Sport (Vice-campeão)
Mário
Franco; Alarcon e Chalmers; M. Paranhos,
Jack e Pedro Sá, Mathias Adour, Benedicto, Geraldo Bastos, Péricles Caldas e Aluísio Caldas.
América: Leça;
Rômulo e Faustino; Lindolpho, Licor e Zizi; Meirinha, Fabinho, Zé Tasso, Juju e
Matuto
JOGOS DO CAMPEÃO
07/05/1922
América 2 x 1 Sport, Jaqueira
Obs.:
jogo suspenso, faltando oito minutos para o término. Concluído em 19/11, o
placar se manteve inalterado.
21/05/1922
América 4 x 0 Peres, Jaqueira
04/06/1922 América 2 x 1 Náutico, Jaqueira
23/07/1922 América 3 x 1 Equador, Jaqueira
06/08/1922 América 0 x 1 Torre, Jaqueira
22/10/1922 América 2 x 1 Santa Cruz, Jaqueira
05/11/1922 América 4 x 2 Flamengo, Jaqueira
Como
o hexacampeonato do Náutico, obtido em 1968, que ainda hoje orgulha a torcida
alvirrubra, o título de Campeão do Centenário, cuja conquista completará 100
anos no próximo novembro, é sempre mencionado quando se fala do América.
Outros
clubes foram campeões na temporada em que eram festejados os primeiros cem anos
da Independência do Brasil, mas nenhum deles deu tanta importância ao feito,
como o alviverde pernambucano, que tem preservado com toda a honra possível o rótulo
de Campeão do Centenário.
O
Corinthians, que levantou o certame paulista daquele ano, foi por muito tempo
tratado como Campeão do Centenário. A partir de 1954, quando ganhou o campeonato
no quarto centenário de São Paulo, passou a ser chamado de Campeão dos
Centenários. Tal denominação já está esquecida.
CAMPEÕES NO CENTENÁRIO
Além
do Periquito, mais quatro clubes com o nome de América foram campeões estaduais no
Centenário da Independência. Confira a lista.
Amazonas
– Onze Nacional
Pará –
Paysandu
Maranhão
– Luso Brasileiro
Piauí
– Piauhy (Liga Esportiva Parnaybana) e Theresinense (Liga Theresinense de
Desportos Terrestres). Obs.: ainda não havia uma entidade estadual.
Ceará –
Ceará
Rio Grande do Norte – América
Paraíba –
Pytaguares
Pernambuco
– América
Sergipe –
Sergipe
Bahia –
Botafogo
Espírito Santo
– América
Rio de Janeiro
– América
São Paulo
– Corinthians
Minas Gerais
– América
Paraná
– Britânia
Obs.:
em Alagoas, Goiás, Mato Grosso e Santa Catarina não havia campeonato. Os
estados de Mato Grosso do Sul e Tocantins não existiam, ao passo que Acre, Amapá,
Rondônia e mais tarde Roraima eram simples territórios federais sem ter um movimento esportivo
digno de registro.
No
Rio Grande do Sul houve um quadrangular para homenagear a Independência do
Brasil, conquistado pelo Grêmio.
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