ABUSOU DA MÃO DE VACA E
TERMINOU SE EXPULSANDO
No
Estádio dos Aflitos enfrentavam-se América e Ferroviário pelo Campeonato
Pernambucano. Jogo só para cumprir tabela. Nenhum dos dois aspirava ao título
de campeão, nem ninguém corria o risco de cair, uma vez que não vigorava a lei
de acesso e decesso.
De saída, o América partiu para cima, criando uma chance
atrás da outra, mas gol que é bom, nada. Como, de acordo com a lei do futebol
“quem não faz, leva”, o atacante Toia inesperadamente abre o placar para o
Ferroviário. O América fica desconcertado. No intervalo, o técnico Dante
Bianchi mostra-se muito incisivo com seus jogadores.
–
Com esse futebol que vocês estão jogando, vão terminar no Tacaruna.
Com
isso, o argentino queria dizer que seu pessoal estava longe de render o que se
esperava. O Tacaruna era um time amador, que representava a fábrica de estopas
Tacaruna no Campeonato da Segunda Divisão, o popular Campeonato Suburbano.
Vem o segundo tempo. Quem pensa em reação do América está
redondamente enganado. Logo os periquitos começam a discutir. Genival, o
capitão, pede para Dandô se desgrudar da bola. O volante retruca, chamando
Genival de palhaço. Dilson, o mais tarde médico Dilson Marques, consegue esfriar
os ânimos.
De repente, o jogo vai se transformando em ‘tourada’, com
a pancadaria comendo no centro. O árbitro Evandro Ferreira, com seu jeito de
pacificador, pede calma, porém, é mesmo que pregar no deserto.
Depois
de uma troca de sopapos, Clóvis, do Ferroviário, e Jairo, do América, vão tomar
banho mais cedo. Ou seja, são expulsos.
O
Campeão do Centenário volta a atacar. Dandô recebe um primoroso lançamento de
Dilson, penetra na área e, numa rápida disputa com um zagueiro ferrim, cai,
simulando pênalti.
Evandro
Ferreira não vai na onda, e Dandô, revoltado, xinga-o acintosamente, cobrando a
marcação da penalidade máxima pretendida. É advertido. O dirigente americano Jaime
Guerra ameaça invadir o campo para tirar a diferença com Panam – assim Evandro
Ferreira é apelidado.
O
juiz recebe os primeiros palavrões, oriundos do banco do América e ouve uma vaia
sem força da pequena torcida do Alviverde. Dandô consegue seu objetivo, ou
seja, complicar a vida do homem do apito.
Faltando uns 15 minutos para o encerramento da partida,
Dandô, que não está jogando essa bola toda, corre para cima do juiz, e com a
cara mais lavada do mundo pede-lhe desculpas, ao mesmo tempo em que suplica:
–
Seu juiz, me expulse, não quero mais jogar. A ‘lua’ tá muito forte, tô passando
mal.
Evandro, que já tinha vivido situação parecida, com
Sarará, um jogador do Sport, diz a Dandô que não pode expulsá-lo porque ele não
havia dado motivo. A simples reclamação da cobrança de um pênalti inexistente
não justificava uma expulsão.
O
volante, por sua vez, não tem como pedir ao treinador para botar outro no seu
lugar porque não são permitidas substituições.
Foi
só Evandro Ferreira dar as costas a fim de acompanhar o jogo, para Dandô dar
aquele pique diretamente para o vestiário.
Ainda
no caminho arranja um jeito de dizer aos repórteres, que está sendo sido
expulso de campo injustamente, jogando a diminuta, mas assanhada torcida
esmeraldina contra o juiz.
A verdade é que na véspera, no bairro de Santo Amaro,
Dandô se rendera diante de uma gostosíssima mão de vaca, regada a uma porção de
louras suadas. As consequências, para lembrar o conselheiro Acácio, personagem
do grande escritor português Eça de Queiroz, só vieram depois, ou seja, durante
o jogo, em forma de um insuportável desarranjo intestinal.
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