Técnico Moésio Gomes (Foto; oGol) |
Em seu livro “Presepadas no mundo da bola”, lançado em 2003, o jornalista cearense Alberto Damasceno, que nos deixou há menos de um ano, contou uma porção de histórias engraçadas, ele que teve uma múltipla atividade, tendo sido, inclusive, empresário de futebol – teve o mérito de descobrir o célebre Dedeu – e presidente de clube. Foi presidente do América cearense durante 23 anos.
Um de seus muitos causos envolve
o ex-jogador e ex-treinador Moésio, irmão do um ex-atacante do Náutico, Mozar,
que vestiu a camisa alvirrubra no já distante 1957. Além de Moésio, aparecem os
zagueiros Pedro Basílio e Artur, o famoso Pai d'Égua, que passaram pelo futebol pernambucano,
defendendo o Sport e o América, respectivamente.
Pedro Basílio (Foto: reprodução Terceiro Tempo) |
“O Ceará tentava o
tetracampeonato, o Fortaleza tentava impedir que isso acontecesse.
Dia do grande jogo – 1978 –,
o alvinegro concentrado em Porangabussu, café da manhã à vontade, jogadores
levantando um pouco mais tarde, quando por volta das 10 horas, o técnico Moésio
é procurado pelo zagueiro Artur, escalado ao lado de Basílio na composição de uma
das melhores zagas que o futebol cearense já teve.
– Moésio, você precisa
liberar eu e o Pedro para tomar pelo menos umas cinco cervejas...
– Tu é doido, Artur? Não
está vendo que faltam só seis horas para o jogo? É decisão de título, macho...
– Eu sei, Moésio. Pode
confiar em nós. Só cinco cervejas, a gente garante...
–
Artur, te coloca no meu lugar: todo mundo acha que eu sou Fortaleza. Hoje tem Ceará
x Fortaleza, eu o técnico do Ceará. Se der qualquer desmantelo, o culpado sou
eu... compreenda.
– Moésio, olha só como eu estou...
E
mostrou as mãos trêmulas.
–
O Pedro tá pior do que eu.
–
Sei não, sei não, Artur.
–
Pode confiar, Moésio. Ninguém vai ver a gente.
E
o técnico, sem mais força para a defesa:
–
Olha aqui, eu vou fingir que não estou vendo nem sabendo de nada. Agora, só tem
uma coisa. Se a diretoria souber, eu vou dizer que não sabia de nada, que vocês
fugiram da concentração...
Artur
e Pedro saíram de mansinho, ninguém percebeu ou fingiu que não percebeu.
Artur Pai d'Égua (reprodução) |
A
dupla foi para o restaurante Ribeiro, ali bem pertinho, na esquina do campo do
Ceará.
–
Quebra o galho da gente aí e arranja um lugar escondido pra gente tomar cinco
cervejas sem ninguém ver.
– Aqui não tem. Só tem um salão com as mesas,
o balcão, não tem esconderijo não.
Depois
de várias sugestões, só encontraram um lugar: um guarda-roupas. O Artur entrou
primeiro e se acomodou; depois o Pedrão. A porta do guarda-roupas só era aberta
para trocar a garrafa vazia por uma cheia.
Beberam
as cinco, voltaram para a concentração, jogaram, ganharam o tetra com o famoso
gol do Tiquinho em cima da hora e a comemoração depois, o diálogo entre os dois:
–
Artur, tu suava muito no guarda- roupa. Tu perdeu uns três quilos ali...
–
Eu suava, era? Tu suava muito mais, Pedro. Não sei como tu não derreteu.
Ainda
hoje, quando os dois se encontram, falam do porre no guarda-roupas do Ribeiro.
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