Fernando Menezes, mais um jornalista que se foi (Foto:TV Globo) |
Junho de 1993. Trabalhando no JORNAL DO COMMERCIO, na equipe de Esportes, comandada pelo irrequieto, competente e divertido Sílvio Oliveira – in memoriam – saí do Recife, rumo a Cuenca – e depois Guayaquil –, no Equador, a 2.543 de altura, em plena Cordilheira dos Andes. Ia cobrir mais uma Copa América, no país que décadas atrás, em 1959, recebera a famosa Cacareco, a Seleção Pernambucana que havia representado o Brasil numa edição festiva e amistosa do Campeonato Sul-Americano (mais tarde rebatizado como Copa América). Em minha companhia, Fernando Menezes, titular da coluna Lance Livre, do JC. Lá passamos a conviver com colegas daqui do pedaço, chegados antes ou depois: Claudemir Gomes e Edvaldo Rodrigues (Diario de Pernambuco), Aldeci Lima (Rádio Jornal) e Adilson Couto (Rádio Clube).
Do Recife, eu e Fernando voamos
até São Paulo, onde embarcamos num Jumbo da Varig que se destinava a Tóquio,
com escala em Lima. Na capital do Peru fizemos uma conexão para Cuenca. No mesmo
voo seguiam alguns jogadores, entre os quais, o goleiro Zetti e o lateral
esquerdo Roberto Carlos. Essa turma se juntaria à Seleção Brasileira, que
estava voltando dos Estados Unidos diretamente para o Equador, após participação
na US Cup.
Descemos em Lima em plena
madrugada. Nosso avião rumo ao Equador só decolaria sete horas depois. Como não
tínhamos visto de entrada no Peru, pois éramos apenas passageiros em trânsito,
ficamos confinados em duas salas. Muitos pegaram no sono nas poltronas, mas
quem varou a noite, como o ex-jogador e comentarista Mário Sérgio, que morreu
no desastre com a Chapecoense, ocorrido há cinco anos, divertiu-se com as
inúmeras histórias que Fernando Menezes contava, não apenas de futebol, mas da
vida em geral.
Lembro-me de certa madrugada
em que, cumpridas as nossas tarefas, depois de um jogo noturno, caminhávamos na
calmaria da noite andina, com destino ao hotel, quando Fernando me parou para
apreciarmos uma cena inusitada. Três rapazes, com toda a pinta de quem tinha
tomado todas, tentavam se equilibrar em pé, ao mesmo tempo em que, os três,
agarrados a uma chave, procuravam inutilmente colocá-la no buraco da fechadura
de uma casa. Fomos embora e eles ainda continuavam na sua inútil empreitada.
Mesmo depois do regresso à “terra
dos altos coqueiros”, uma vez cumprida nossa missão, Fernando vez por outra
relembrava aquele momento patético. Em rodas de jornalistas, então, a lembrança
da chave e dos três paus de cana vinha à tona, provocando gargalhadas. Ele contava o caso e interpretava.
A última vez que tive
contato pessoal com Vovô Fernando, como os mais novos gostavam de chamá-lo na
Redação do Jornal do Commercio foi em 27/12/2012, na Federação Pernambucana de
Futebol, por ocasião da inauguração do Centro de Pesquisa e Estudo do Futebol
Pernambucano / Biblioteca Nelson Rodrigues. Com a doença não foi mais possível
lembrarmos o episódio da cidade de Cuenca.
A chamada indesejada das
gentes levou, nesta quinta-feira (9), Fernando Menezes e suas histórias. Que
Deus o tenha e dê o necessário conforto espiritual à família.
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