Vovozinhas mudou postura, perdeu o charme e sumiu
O
Vovozinhas, surgido em 1º de janeiro de 1950 para diversão de Alcides e seus
amigos, principalmente radialistas e cabos eleitorais, marcou época.
Alcides
Teixeira era carioca, mas quando veio para Pernambuco procedia de Alagoas, onde
já fazia rádio. Por isso muita gente achava que ele era alagoano. O Recife funcionava
como um polo do rádio nordestino e aqui havia muita gente vinda de Maceió, como
o célebre Aldemar Paiva, do “Pernambuco, Você é Meu”, o cantor Augusto
Calheiros e vários outros, a exemplo dos irmãos locutores Djalma e Cláudio
Miranda.
O
Vovozinhas inicialmente levava o nome de Associação dos Funcionários da Rádio
Clube e já era um meio de atrair gente. Com o sucesso do Programa das Vovozinhas
a denominação foi mudada.
Empurrado
pela popularidade de seu criador, o Vovozinhas logo caiu no gosto popular. Uma
vez por semana, no campo da TSAP (Tecelagem de Seda e Algodão de Pernambuco),
reduto do Íbis, no bairro de Santo Amaro das Salinas, promovia um jogo noturno,
de portões abertos.
Uma infinidade de equipes, inclusive Náutico, Sport e Santa Cruz, Botafogo da Paraíba, passou por lá. Quando perdia, o Vovozinhas geralmente vendia caro a derrota. Normalmente, contra times de seu nível, levava vantagem. Cada jogo, de portões abertos, era uma festa. Durante um bom tempo, a Rádio Clube, através dos narradores Antônio Menezes, Vicente Lemos e Humberto Siqueira, com comentários de Wagner Mendes, transmitia esses jogos.
O Vovozinhas tinha uma equipe razoável, pois sempre contava com jogadores profissionais que estavam sem clube e aproveitavam suas partidas para manter a forma. Muita gente vestiu sua camisa, como o ponta-esquerda Rinaldo, que depois de brilhar no Náutico, chegou ao Palmeiras e à Seleção Brasileira. Só um jogador tinha escalação garantida. Era o ponta-esquerda Alcides, o dono do time e da camisa 11. O técnico Manta, que fazia parte de um conjunto regional da Rádio Clube, permaneceu anos a fio no cargo, perdesse ou ganhasse o Vovozinhas.
O PEITO DE AÇO FEZ A FESTA
Há
um ditado que diz “formiga quando quer se perder, cria asa e sai voando”. Foi o
que aconteceu com o popularíssimo clube suburbano recifense, que sonhou alto e
resolveu dar um salto maior do que as pernas. Terminou perdendo o antigo
encanto. Ao entrar no Campeonato Pernambucano, em 1966, virou Associação
Atlética Santo Amaro por determinação do presidente da FPF, Rubem Moreira, que
achou esquisito inserir no certame oficial uma equipe com o nome de Vovozinhas.
Talvez Rubão considerasse uma propaganda política do esperto Alcides, que já
havia atuado no campeonato, defendendo o alviazulino Auto Esporte. Começou a ir
pro espaço a identificação entre o time e a marca do deputado, as vovozinhas.
No futebol profissional, o ex-Vovozinhas
constituiu-se num verdadeiro saco de pancadas, como seu concorrente do
populoso bairro de Santo Amaro, o Íbis, tido hoje como o pior time do mundo.
Não
obstante ter sofrido uma goleada de
MORTE DO DEPUTADO
Em
1973 houve uma grande consternação com a morte repentina de Alcides, que já
estava afastado dos gramados, embora continuasse à frente do clube. Pensava-se
que o Vovozinhas, aliás, Santo Amaro, fosse acabar.
O time continuou em atividade, dirigido inicialmente por um filho de Alcides, Alcir, que o substituiu durante algum tempo na política e nos meios de comunicação. Mais tarde, o comando do Santo Amaro foi entregue a João Lima, um antigo assessor do tripé de radialista, deputado e jogador. Teve vários técnicos, o mais notável deles, o kconhecido Zuca.
Alcides Teixeira, comemorando com Alcides Lima (Central) e Urbano Serpa (Íbis) a entrada no Campeonato Pernambucano |
Posteriormente, quem herdou o espólio futebolístico de Alcides Teixeira foi o desportista Antônio Pimenta Machado, um paraense de descendência portuguesa ligado ao futebol, ex-diretor do Sport, do qual era conselheiro.
No elenco estavam os goleiros Pimenta e Pimentinha e o atacante Betuca, filhos do velho Pimenta. Rubem Salim - o mais famoso integrante do elenco por ter jogado no Santa Cruz, Sport, Porto de Portugal e vários outros clubes - Osvaldo, Emerson, Nazinho, Eliel, Zuza e Célio eram jogadores do Santo Amaro e funcionários da firma “Pimenta Machado Ltda”.
VICE-CAMPEÃO NACIONAL
Em
1981, na melhor fase de sua história com o novo nome, o Santo Amaro disputou a
Taça de Bronze, o que hoje corresponderia à Terceira Divisão ou Série C do
Campeonato Brasileiro. Com Rubem Salim exercendo a dupla função de treinador e
jogador, o time, agora da família Pimenta, foi à final com o Olaria, do Rio de
Janeiro, que era dirigido pelo carismático Duque, muito conhecido dos
pernambucanos por ter comandado as equipes dos três grandes do Estado. O Santo
Amaro foi goleado no Rio por 4 x 0, mas não conseguiu tirar a diferença no
Recife.
Confira os jogos:
OLARIA 4 X 0 SANTO AMARO, em 25 de abril de 1981.
Estádio Marechal Hermes, Rio de Janeiro.
Árbitro: Nei Andrade Maia-BA
Gols: Chiquinho, 13 do 1º; Zé Ica, 14, e Leandro, 23 e 25 do 2º.
Expulsão: Zé Ica, do Olaria.
OLARIA: Hilton;
Paulo Ramos, Pino, Marcos e Gilmar (Edvaldo), Ricardo, Lulinha e Leandro;
Chiquinho, Sérgio Luís (Aurê) e Zé Ica. Técnico: Duque.
SANTO AMARO: Pimenta; Lula, Figueiroa, Moacir e Zuza; Rubem Salim, Luís
Carlos e Valtinho; Savinho, Fabinho] e Eliel. Técnico: Rubem Salim.
SANTO AMARO 1 X 0 OLARIA, em 1º de maio de 1981.
Arruda,
Recife
Árbitro:
José Leandro Serpa/CE
Gol:
Derivaldo, 35 do 2º
SANTO AMARO: Pimenta; Lula, Moacir, Figueiroa e Zuza; Eliel, Betuca
(Rubem Salim) e Luis Carlos, Savinho, Fabinho e Birino (Derivaldo). Técnico:
Rubem Salim.
OLARIA:Hilton; Paulo Ramos, Salvador, Mauro e Gilcimar, Ricardo,
Lulinha e Orlando; Chiquinho, Aurê (Nunes) e Leandro (Serginho). Técnico:
Duque.
“Beneficiado” pela Lei Zico, o Santo Amaro mudou de nome outra vez. Durante muito tempo foi Casa Caiada, tendo se integrado a uma loja de farmácias pertencente ao desportista e também político Jorge Chacrinha, a quem foi vendido. Posteriormente passou a se chamar Recife, logicamente com novo proprietário. Foi em seguida Manchete Futebol Clube, tendo sucumbido em 2008.
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