O TREM DO NÁUTICO TERMINOU EM CONFUSÃO
A história que
vou contar aconteceu no fim da excursão. O Timbu já tomava o caminho da volta,
quando os dirigentes resolveram distribuir o material do time com os jogadores.
Cada um incluiria na sua bagagem dois calções, duas camisas, dois pares de
meião e um par de chuteira. Assim, parte do peso a que o clube tinha direito
seria preenchida com outras coisas. Achando que os cartolas queriam era mais
espaço para trazer muamba, os atletas rebelaram-se:
– Isso aí é a
bagagem do Náutico e ninguém vai levar nada.
A cartolagem
foi à forra, determinando que dali em diante, o ônibus fretado para transportar
a delegação internamente não esperaria um minuto, além da hora aprazada. Quem
se atrasasse que se virasse. Seu passaporte e sua passagem no cobiçado
Constallation da Panair do Brasil, poderiam ser apanhados na Embaixada
Brasileira em Paris. Um recado direto para aqueles que costumavam remanchar um
pouquinho, principalmente os biriteiros. Depois de viajar de trem na Alemanha durante
toda uma noite, a partir de Hamburgo, a turma dos Aflitos chegou a Colônia, ainda
em solo alemão, onde pegaria nova composição, com destino a Paris. Como sempre
fazia, Genário dirigiu-se imediatamente ao setor de informações para checar se
tudo estava nos trinques. Foi informado de que o trem em que a delegação
viajaria para a capital francesa partiria às 8h30, tendo sido advertido para o
fato de às 8h15 sair da mesma plataforma, a 9, outro comboio, rumo ao interior
do país. Era preciso ter cuidado para não pegar o bonde, no caso o trem,
errado. Genário reuniu todo o mundo e passou o bizu.
Wilton e
Alcidésio, que testemunharam o diálogo no idioma da terra de Napoleão Bonaparte
entre o intérprete alvirrubro e o chefe da estação, acharam que o companheiro
não falava patavina de francês, uma vez que, para eles, só sabia dizer “oui”
(sim), além do clássico “bon jour, monsieur.”
Genário era cearense egresso do Maranhão, popularmente chamado de Genaro,
e, como foi dito, já estudava medicina.
Havia um
grupo no qual Genário se enquadrava, que gostava de uma grea. Ele mesmo armou
uma presepada ali em Colônia. Combinou com Caiçara, Lula e Alcidésio para que entrassem
no trem das 8h15, com sua respectiva bagagem, o que foi feito. Foi o suficiente
para que os cartolas Abel Ventura e Rui Salatiel, bem como o técnico Palmeira
acompanhassem seus passos, no que foram seguidos pelo pessoal da mídia:
Fernando Ramos (Rádio Jornal do Commercio), Hélio Pinto (Diário de Pernambuco) e
Antônio Almeida (Jornal do Commercio).
Com
a locomotiva já começando a apitar, dando o sinal de partida, os três farsantes
deram o alarma de araque:
–
Entramos no trem errado, não é esse.
Dito
isso correram em direção à porta do vagão, provocando um ligeiro tumulto, já
que os outros pernambucanos também se levantavam às pressas. Genário, o autor
da zorra, morria de rir, às escondidas, do lado de fora. Mais ainda quando o
explosivo técnico Palmeira, depois de jogar a mala pela janela do trem, começou
a soltar seu repertório de palavrões, em meio a gestos agressivos:
= Qual foi o filho da puta que disse que o
trem era esse? Apareça!
Espantados,
os alemães não traduziam o palavreado do “velho Pal”, mas compreendiam o que
ele estava dizendo. Enquanto isso, com cara de sonso, Genário explicava:
–Bom,
eu avisei que era o das oito e meia, se entenderam errado eu não tenho culpa...
Essas histórias de boleiros são sensacionais. Algumas são tão destrambelhadas que se pensa até que são inventadas.
ResponderExcluirNa foto, dá para identificar a maioria: em pé Zeca, Ivanildo e Genaro; sentados:Dico, locutor Fernando (o que, Lenivaldo? Deu um branco...) Manuelzinho com um caneção de chope, e Djlama. Agaachado: Eloi. O cara, em pé, um pouco afastado da mesa, parece consultar um celular... Mas, em 1953?!...
ResponderExcluir