O ano em que a Capital do Agreste foi totalmente alvinegra
O "glorioso alvinegro" exaltado pelo semanário Tabloide Esportivo |
O gol de Edinho contra o Sport, que deu ao Central o título de
campeão da primeira fase do primeiro turno do Campeonato Pernambucano, no
último sábado (era começo de junho), em Caruaru, começou a ser marcado muito
antes dos 18 minutos do segundo tempo do jogo. O gol e o título começaram a ser
desenhados no domingo 12 de maio, e longe 132 quilômetros do palco da grande
vitória. Naquele domingo, já perto das oito horas da noite, uma frase curta,
talvez perdida e não levada em conta pelos jornalistas do Recife, solta num
pequeno vestiário da Ilha do Retiro, dizia a força do Central:
"A imprensa do Recife não acredita no Central. Mas, nós vamos
correr por fora, calados!"
O Central acabara de empatar com o próprio Sport em um a um, na abertura
do campeonato. A frase do jogador Mardôni saía com fé, com muita confiança. A
partir dali, sentia-se que o Central não era mais um time qualquer. E muitos
nos lembram disso quando a bola acabou de morrer na rede do goleiro Paulo César,
sábado, em Caruaru. E foi lembrada também a frase de Hélio, chefe da Torcida
Jovem do Central, algumas horas antes do jogo começar.
- Vamos sair campeões dessa primeira fase. Não temos dúvida disso.
Nós chegamos a Caruaru às nove da manhã. E encontramos dois
assuntos na pauta dos 160 mil habitantes da cidade – são 220 mil no município –
(hoje a população é estimada em 369 mil): o Central e o forró. É assim mesmo,
hoje, em Caruaru, no "alvinegro". E no forró do São João. Talvez, se
fale até mais no "alvinegro".
Perto do Banco do Brasil, numa das ruas paralelas à Avenida Rio
Branco – ou melhor, Rua da Matriz – ponto maior de referência do centro de
Caruaru, apostadores e torcedores simples, diziam, convictos:
"Desta vez, vamos!"
Distante dali, já perto do acesso à estrada que liga Caruaru a
Campina Grande, percebia- se que o Central estava mudando. Fomos encontrar no
"Ninho da Patativa”, a nova concentração do time, um grupo de
jogadores, alegre, sem medo. E fomos encontrar armas de quem quer ser campeão.
As armas do técnico Erandir eram iguais às dos clubes grandes:
"Não posso escalar o time agora. Temos o goleiro Carlinhos e
mais..."
Segundo Erandir, Carlinhos e mais Chiquinho e Cândido estavam
machucados. Poderiam não jogar. Sabíamos que não era verdade. Sabíamos que as
nove da noite, os três estariam em campo. Erandir procurava revidar o técnico
Carlos Alberto Silva que se negava a dizer qual era o time do Sport para a
decisão.
Houve um certo momento de ameaça de chuva na cidade. Ficou só
nisso. Se chove, talvez o Central fosse prejudicado. Seu time é que está
tocando melhor a bola nesse campeonato. Na Tribuna de Imprensa, meia hora antes
do jogo começar, os repórteres de Caruaru, iam dizendo, igual aos apostadores e
torcedores de logo cedo: "dessa vez, vamos."
Um fato ninguém pode mais negar: Caruaru, hoje, já torce pelo
Central. E muito. Foi embora o tempo em que todos, na cidade, eram antes de
tudo, Náutico, Santa Cruz e Sport. Não, a cidade já é mesmo
"alvinegra". Até mesmo quem era Vera Cruz – o grande inimigo do
Central na época do amadorismo – esqueceu o passado. E a grande torcida de
Caruaru estava lá, de bandeira na mão, rindo, brincando, certa de que
"dessa vez vamos... Finalmente."
A entrada do Central em campo foi inesquecível. Fogos, bandeiras
bem abertas e bem agitadas. É como se o time já estivesse saindo do gramado
após a conquista de uma grande vitória, que chegaria um pouco depois. E a
vitória pode ser contestada? Não. Não pode. Lembram alguns que Eusébio andou
perdendo alguns gols. Recordam que o goleiro Carlinhos andou fazendo milagres –
ele foi até o goleiro do Fantástico no dia seguinte. Mas é bom dizer que, em
certo momento, a bola rondou a área pequena de Paulo César, o goleiro do Sport.
Foi justa a vitória. É impossível contestar.
O Central ganhava a fase do primeiro turno e relembrava ali a
época romântica do alvinegro de Dudinha, Adolfo (qual o caruaruense que não se lembra
do legendário Adolfo), Zé Carlos, Jucélio, Da Cunha (o velho Zé de Rita),
Pissica, Vadinho, Zito, Edmílson, Fernando Lima? O Central de Nido. O de
Erandir, sim, isso mesmo, o Erandir técnico hoje. Todos dos anos 60. Do
alvinegro de Zezinho de Tutu (jogava fácil o criativo meia Zezinho). Foi uma
turma que não ganhou títulos, que sequer ganhou pedaços de turnos, mas que
formou um grande Central. Foi, de fato, uma noite inesquecível a deste sábado,
primeiro de junho.
Foi uma noite pra se saber que o Central "está danado de
bom." Tão bom quanto Luiz Gonzaga, que alegrou também a cidade, num dos
forrós. É isso mesmo, o Central "está danado de bom", e parece
preparado para ser campeão pernambucano. Tem mesmo razão, o caruaruense – que hoje
só torce pelo seu alvinegro – quando diz:
"Desta vez, vamos!".
Obs. atualizando: o Central não foi. Perdeu o turno para o
Náutico. E como segue, parece que nunca vai. Infelizmente, amigo e amiga
alvinegros.
Até a próxima história do meu ALÔ, ALÔ, SAUDADE!
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