ALÔ, ALÒ, SAUDADE-Coluna de Paulo Moraes

 O ano em que a Capital do Agreste foi totalmente alvinegra


O "glorioso alvinegro" exaltado pelo semanário Tabloide Esportivo

 Mexo nos meus arquivos e encontro um artigo publicado em junho de 1985, portanto, há 36 anos. É sobre o "glorioso alvinegro”, como diz na letra do atual hino oficial do Central, o compositor e cantor Israel Filho. E que transcrevo neste espaço. Vamos ao artigo:

   O gol de Edinho contra o Sport, que deu ao Central o título de campeão da primeira fase do primeiro turno do Campeonato Pernambucano, no último sábado (era começo de junho), em Caruaru, começou a ser marcado muito antes dos 18 minutos do segundo tempo do jogo. O gol e o título começaram a ser desenhados no domingo 12 de maio, e longe 132 quilômetros do palco da grande vitória. Naquele domingo, já perto das oito horas da noite, uma frase curta, talvez perdida e não levada em conta pelos jornalistas do Recife, solta num pequeno vestiário da Ilha do Retiro, dizia a força do Central:
   "A imprensa do Recife não acredita no Central. Mas, nós vamos correr por fora, calados!"
   O Central acabara de empatar com o próprio Sport em um a um, na abertura do campeonato. A frase do jogador Mardôni saía com fé, com muita confiança. A partir dali, sentia-se que o Central não era mais um time qualquer. E muitos nos lembram disso quando a bola acabou de morrer na rede do goleiro Paulo César, sábado, em Caruaru. E foi lembrada também a frase de Hélio, chefe da Torcida Jovem do Central, algumas horas antes do jogo começar.
   - Vamos sair campeões dessa primeira fase. Não temos dúvida disso.
   Nós chegamos a Caruaru às nove da manhã. E encontramos dois assuntos na pauta dos 160 mil habitantes da cidade – são 220 mil no município – (hoje a população é estimada em 369 mil): o Central e o forró. É assim mesmo, hoje, em Caruaru, no "alvinegro". E no forró do São João. Talvez, se fale até mais no "alvinegro".
   Perto do Banco do Brasil, numa das ruas paralelas à Avenida Rio Branco – ou melhor, Rua da Matriz – ponto maior de referência do centro de Caruaru, apostadores e torcedores simples, diziam, convictos:
   "Desta vez, vamos!"
   Distante dali, já perto do acesso à estrada que liga Caruaru a Campina Grande, percebia- se que o Central estava mudando. Fomos encontrar no "Ninho da Patativa”, a nova concentração do time, um grupo de jogadores, alegre, sem medo. E fomos encontrar armas de quem quer ser campeão. As armas do técnico Erandir eram iguais às dos clubes grandes:
   "Não posso escalar o time agora. Temos o goleiro Carlinhos e mais..."
   Segundo Erandir, Carlinhos e mais Chiquinho e Cândido estavam machucados. Poderiam não jogar. Sabíamos que não era verdade. Sabíamos que as nove da noite, os três estariam em campo. Erandir procurava revidar o técnico Carlos Alberto Silva que se negava a dizer qual era o time do Sport para a decisão.
   Houve um certo momento de ameaça de chuva na cidade. Ficou só nisso. Se chove, talvez o Central fosse prejudicado. Seu time é que está tocando melhor a bola nesse campeonato. Na Tribuna de Imprensa, meia hora antes do jogo começar, os repórteres de Caruaru, iam dizendo, igual aos apostadores e torcedores de logo cedo: "dessa vez, vamos."
   Um fato ninguém pode mais negar: Caruaru, hoje, já torce pelo Central. E muito. Foi embora o tempo em que todos, na cidade, eram antes de tudo, Náutico, Santa Cruz e Sport. Não, a cidade já é mesmo "alvinegra". Até mesmo quem era Vera Cruz – o grande inimigo do Central na época do amadorismo – esqueceu o passado. E a grande torcida de Caruaru estava lá, de bandeira na mão, rindo, brincando, certa de que "dessa vez vamos... Finalmente."
   A entrada do Central em campo foi inesquecível. Fogos, bandeiras bem abertas e bem agitadas. É como se o time já estivesse saindo do gramado após a conquista de uma grande vitória, que chegaria um pouco depois. E a vitória pode ser contestada? Não. Não pode. Lembram alguns que Eusébio andou perdendo alguns gols. Recordam que o goleiro Carlinhos andou fazendo milagres – ele foi até o goleiro do Fantástico no dia seguinte. Mas é bom dizer que, em certo momento, a bola rondou a área pequena de Paulo César, o goleiro do Sport. Foi justa a vitória. É impossível contestar.
   O Central ganhava a fase do primeiro turno e relembrava ali a época romântica do alvinegro de Dudinha, Adolfo (qual o caruaruense que não se lembra do legendário Adolfo), Zé Carlos, Jucélio, Da Cunha (o velho Zé de Rita), Pissica, Vadinho, Zito, Edmílson, Fernando Lima? O Central de Nido. O de Erandir, sim, isso mesmo, o Erandir técnico hoje. Todos dos anos 60. Do alvinegro de Zezinho de Tutu (jogava fácil o criativo meia Zezinho). Foi uma turma que não ganhou títulos, que sequer ganhou pedaços de turnos, mas que formou um grande Central. Foi, de fato, uma noite inesquecível a deste sábado, primeiro de junho.
   Foi uma noite pra se saber que o Central "está danado de bom." Tão bom quanto Luiz Gonzaga, que alegrou também a cidade, num dos forrós. É isso mesmo, o Central "está danado de bom", e parece preparado para ser campeão pernambucano. Tem mesmo razão, o caruaruense – que hoje só torce pelo seu alvinegro – quando diz:
   "Desta vez, vamos!".
    Obs. atualizando: o Central não foi. Perdeu o turno para o Náutico. E como segue, parece que nunca vai. Infelizmente, amigo e amiga alvinegros.
Até a próxima história do meu ALÔ, ALÔ, SAUDADE! 

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