Marinho, o Diabo Louro do Arruda
Barbosa, goleiro do Brasil na Copa de 1950, Palito, Lucas, Aldemar, Calico, Ananias-o Galâ das Gerais, Jorge de Castro, Luiz Marine, Marinho, Amaury e Zeca |
Um dos ídolos do Santa Cruz Futebol Clube em passado já distante
foi o centroavante Marinho. Revelado pelo futebol do interior paulista, chegou
a jogar no Bauru Atlético Clube ao lado de Dondinho, o pai de Pelé, em 1951.
Estava no time, quando o chamado Esquadrão da Primavera aplicou uma goleada histórica
de 8 x 2 no Atlanta da Argentina.
Em 1952, o atacante, famoso pela impetuosidade e pela categoria
com que marcava seus gols, foi contratado pelo Fluminense, tendo passado a
atuar ao lado de craques consagrados, como Telê, Didi e o pernambucano Orlando,
o Pingo de Ouro. O sucesso no Tricolor das Laranjeiras durou pouco tempo. Em 1953, num Fla-Flu, um choque com o goleiro
paraguaio Sinforiano Garcia, do clube da Gávea, provocou uma ruptura de
ligamentos, levando o jogador à mesa de operação.
Flu 1953: em pé, Píndaro, Edson, Jair Santana, Castilho, Pinheiro e Bigode; agachados, Telê, Didi, Marinho, Orlando e Quincas (Reprodução do Terceiro Tempo) |
Tempos depois voltou a jogar, porém, não teve mais vez no
Fluminense. O Diabo Louro, como era conhecido, foi ‘descoberto’ pelo Santa
Cruz, e em 1955 veio definitivamente para o Tricolor. Recebido com muita festa,
começou a fazer gols e logo caiu nas graças da galera. Os treinos enchiam o
antigo Alçapão do Arruda. Marinho cada vez mais empolgava os torcedores da Cobra
Coral.
Todavia, no ano seguinte o povão foi pego de surpresa ao tomar conhecimento de
que o maior astro da sua equipe tinha sido negociado com o Gênova, da Itália. Ainda
não havia a enxurrada que há hoje de brasileiros atuando no futebol italiano e europeu,
de um modo geral. Aqui, acolá, é que saía um jogador do Brasil para lá. O passe
foi vendido por 1 milhão e 100 mil cruzeiros, algo parecido com R$ 1, 1 milhão,
uma fortuna dentro dos padrões monetários daquele tempo.
A despedida oficial de Marinho aconteceu num programa de auditório da Rádio
Jornal do Commercio, comandado pelo
‘animador’ maranhense Paulo Duarte, um apaixonadíssimo torcedor do Santinha.
Marinho no palco, a orquestra tocando a Valsa do Adeus – “Adeus, amor, eu vou
partir pra bem longe...” – o povo cantando e acenando lenços, algumas pessoas
indo às lágrimas.
No início de 1957, Marinho regressou. O que teria acontecido? Logo se descobriu
que uma séria contusão, agravada pelo frio europeu, interrompera a carreira do
atacante na Itália. Ao mesmo tempo brilhava outro brasileiro, o ponta-direita
Julinho, ex-Portuguesa de Desportos, que mais tarde defenderia o Palmeiras. Conta-se
que Julinho chegou a ser cotado a ir para a Copa do Mundo de 1958, na Suécia,
mas descartou a possibilidade por não achar justo, jogando no exterior, tomar o
lugar de alguém que estava em atividade no País. Na Itália, Julinho ajudou a
Fiorentina tornar-se campeã da temporada 1955/56.
Marinho (E) e o argentino Schiaffino, do Milan |
No retorno ao Brasil, Marinho continuou a ser o ídolo de antes, mas dessa vez não era o titular absoluto da posição. Contratado em 1957, o técnico Alfredo Gonzalez não tinha o mesmo pensamento do torcedor e chegou a barrá-lo. O povão achava que se tratava de despeito do treinador para com o craque. A verdade é que Marinho tornou-se um habituê do Departamento Médico e, pouco a pouco, foi sendo esquecido.
O Santa Cruz, que fora campeão pela última vez em 1947 (bicampeão), veio a
fazer as pazes com o título ao conquistar seu primeiro supercampeonato, em
1958, mas equivalendo a 57. Marinho foi apenas mais um na campanha, uma vez que
jogou poucas vezes.
O antigo centroavante provocou os
seguintes slogans, acompanhando seu nome: “profissional amador” – Rio de
Janeiro; “artilheiro antológico”, no Recife; “Di Pietro”, na Itália; “grande
craque”,no interior paulista.
Marinho morreu aos 79 anos, no dia
28/6/2005, em Bauru-SP.
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