Menino treloso, motorista afobado e o time do Náutico na delegacia
Começo do Campeonato Brasileiro de
1977. Houve um fato em Alagoas, que cheirou ao tragicômico. CSA e Náutico enfrentaram-se
no Rei Pelé. Encerrada a partida, a torcida alagoana comemorava a vitória de
seu time. Poucos representantes da timbuzada, insatisfeitos, reclamando da
arbitragem. O bate-boca entre torcedores das duas equipes foi inevitável. O
ônibus que conduzia a delegação do Náutico acabou sendo apedrejado à saída do estádio.
A polícia chegou junto, mas não
conseguiu evitar o conflito. Uma pedra atirada pelo menor José Alves da Silva,
acabou acertando a filha do dirigente Antônio Amante – foi presidente em 1989/91.
A garota levou um corte na testa e foi atendida ali mesmo. Porém, quem acabou
perdendo a cabeça foi o motorista do ônibus, Francisco Borges da Silva. Ele não
quis conversa. Agarrou o garoto, colocou-o ao seu lado, na parte de frente do
veículo, e esbravejou:
– Só vou soltá-lo no Recife.
E arrancou com o coletivo, rumo à rodovia que
liga as duas capitais. A torcida alagoana ficou quieta. A verdade é que o clima
já vinha tenso. Três dias antes, uma quinta-feira, tinha havido guerra em
Pernambuco, depois do jogo Náutico 1, CRB 0, nos Aflitos. E os alagoanos
apanharam. Naquele mesmo domingo do quiproquó em Alagoas, o pau estava comendo
na Paraíba. O CRB batia em campo no Botafogo de João Pessoa, mas nas
arquibancadas, tome porrada na turma da Terra dos Marechais.
No incidente na capital alagoana, o
Centro de Operações da Polícia Militar de Alagoas entrou em ação, depois de ter
sido informado de que um menino havia sido ‘sequestrado’ pelo pessoal do
Náutico. A Polícia Rodoviária também foi acionada. Na delegacia do centro de
Maceió, os pais do garoto e os torcedores do CSA permaneciam de plantão,
indignados. Até que o ônibus foi localizado e detido. Já estava na altura da
divisa de Alagoas com Pernambuco.
– Cadê o menino? – quiseram saber os
policiais.
O motorista disse que ele havia sido
liberado, mas a guarnição militar obrigou a delegação voltar. Tudo preso. Revoltados
e escoltados, os jogadores do time pernambucano tiveram que suportar aquela
humilhação sem chiar para que a coisa não ficasse pior. Pior foi chegar à
delegacia sem o ‘sequestrado’.
La na salinha, o acossado e nervoso Francisco
ainda tentou desconversar, todavia, terminou dando o serviço. Tinha levado o
garoto para lhe dar uma lição, mas o havia liberado, depois de alguns sermões, no
Tabuleiro dos Martins, a
O jeito era esperar que a ‘vítima’
desse sinal de vida. Só que, mais liso do que um muçum, José teve que retornar
a pé. Pelo menos foi o que relatou. Uma caminhada e tanto. Mas como no baião de
Luiz Gonzaga, que diz “penei, mas aqui cheguei”, o menor arruaceiro terminou
aparecendo em sua casa. Ao serem informados de sua chegada, os jogadores
exultaram.
– Estamos livres, já podemos viajar?
–Ainda não – respondeu o delegado.
É que a história do sequestro havia gerado
uma queixa-crime contra o Náutico. O pai do menino estava irado e queria ver
todo aquele povo no xilindró. Os alvirrubros tiveram que gastar muita saliva para
aplacar o veneno daquela cobra.
Finalmente, já na alta madrugada, quando
a queixa foi retirada, os cansados e sonolentos alvirrubros puderam pegar a
estrada.
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