BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

  




Ano de 1976, decisão do Campeonato Baiano entre Bahia e Vitória. O Esquadrão de Aço venceu o primeiro jogo por 2 x 1, um dos gols assinalado por Beijoca, o centroavante das mil e uma noitadas e mil e uma confusões. O técnico do Bahia era Orlando Fantoni, muito conhecido em Pernambuco, onde dirigiu o Náutico e o Sport.

Veio o segundo encontro, mas na hora de o time concentrar-se, cadê Beijoca? Tinha sido visto pela última vez no vestiário, na comemoração da vitória no primeiro jogo decisivo. O que não faltou foi gente para procurá-lo. Alguns funcionários do clube passaram a vasculhar o brega, como era chamada a zona da capital baiana. Uma informação num canto, uma indicação noutro lugar, os homens de confiança de Fantoni foram encontrar Beijoca, com o dia já começando a raiar, portanto, horas antes da partida decisiva. Exalava cheiro de caeba por todos os lados. Estava no mundo da lua. Só na hora do almoço, juntou-se aos companheiros, depois de ter dormido a manhã toda. O aroma proveniente da farra quase interminável ainda era emanado pelos poros. Foi informado de que não jogaria. Foi aí que dirigiu-se a Fantoni, de maneira até arrogante, mas confiante:

– Vou jogar a marcar o gol da vitória.

O treinador mostrou-se um tanto surpreso e espantado com sua reação. Surgiu aquele zunzum, os cochichos espalhando-se pela concentração. Por titio Fantoni, ele não jogaria mesmo por não estar em condições físicas favoráveis. Todavia, os dirigentes entraram em cena e contornaram a situação, tendo o cuidado de avisar-lhe de que aquela seria sua última partida pelo Bahia.

Escalação garantida, o porra louca Beijoca, afirmam testemunhas, ainda teve a petulância de levar umas poucas garrafinhas de cerveja no ônibus que conduziu a equipe para a Fonte Nova, sorvendo, disfarçadamente, um gole aqui, outro acolá. Quem via, fazia que não via. Atitude de um jogador absolutamente indisciplinado. E irresponsável.

Fonte Nova estourando de gente, Beijoca cumpriu a promessa ao assinalar o gol que levou o Bahia a obter mais um triunfo sobre o rival. Escore mínimo, é verdade, mas que valeu o título de tetracampeão. Jogo encerrado, não houve quem segurasse mais o atacante.

Hoje, muitos anos depois, o velho boleiro não é mais visto nos cabarés baianos, mas nas igrejas evangélicas de Salvador, seguindo os ensinamentos do Senhor.

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