BOLA, TRAVE E CANELA-Lenivaldo Aragão

 

 UMA FARTURA DE GOLS



 Fernando Lyra, o político caruaruense que já não está entre nós, teve sua época de cartola. Durante algum tempo, na década de 60, foi diretor de futebol do Central. O irmão Roberto acompanhava seus passos, como fervoroso torcedor patativa. Talvez estivesse estagiando para substituir mais tarde o irmão mais velho, que se preparava para entrar na política, substituindo o pai João Lyra Filho, que foi prefeito de Caruaru e deputado. Era a fase em que o goleiro Dudinha brilhava no Alvinegro.

O Central contratou um técnico chamado Joaquim Belizário, que procedia do Deportivo de Cochabamba, Bolívia, e tinha muitos esquemas táticos na cabeça. A presença de um treinador internacional em Caruaru agitou os torcedores e os jornalistas da Capital do Agreste. Belizário assumiu numa quarta-feira e estreou no domingo seguinte. Animado e curioso com a novidade, Roberto fez questão de acompanhar a preleção do treinador momentos antes de o time entrar em campo. Ficou cem por cento otimista ao tomar conhecimento do plano tático estabelecido pelo novo comandante. O esquema de Joaquim Belizário era infalível.

– O time começa jogando com o goleiro, que dá a bola ao lateral Adolfo.  Adolfo avança rápido e solta no meio pra Zito. Zito dá três passos e estica pra Fernando Lima na esquerda. Fernando Lima levanta na área, Toinho mete a cabeça, gol!

As tramas repetiam-se pela direita, centro e esquerda, numa alucinante sucessão de investidas, às quais nenhuma equipe resistiria. Era como se fosse uma série de incursões aéreas em plena guerra.

Roberto Lyra esfregava as mãos, já antevendo o que estava para acontecer. Finalmente, graças à arrasadora tática, a tendência era o Central se transformar numa fábrica de gols.

Cada hipotética investida de Joaquim Belizário terminava com a bola na rede. Uma fartura de gols...

O jogo era contra o Santa Cruz, time de Roberto e seus irmãos. Só que naquele dia, por razões óbvias, ele e o resto da família estavam na corrente contrária.

Confiante e entusiasmado, Roberto Lyra dirigiu-se para seu lugar no reservado da diretoria e fez questão de guardar o segredo para si. Ficou esperando os gols, que foram saindo, mas do outro lado. Quando o Central já estava levando de quatro, o candidato a cartola pegou o beco, decepcionado e frustrado, sem esperar o término do encontro.

Ou seja, a tática de Belizário fizera efeito contrário.    

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