O início foi assim (Foto: reprodução internet)
Nesta
quarta-feira, 7 de abril de 2021, o Clube Náutico Capibaribe comemora a
passagem do 120º aniversário de sua fundação, o que ocorreu em 7 de abril de
1901. O Alvirrubro surgiu como decorrência das regatas de remo, que na época
atraíam a juventude recifense. Nas então águas cristalinas do rio Capibaribe,
que corta o Recife, espalhando seus braços por vários lados da cidade, sempre
havia rapazes exercitando-se.
Remava-se, ora em competição, ora
como simples diversão. Comumente, grupos de rapazes alugavam barcos e saíam rio
acima, dando suas remadas, indo às vezes, até o bairro de Apipucos, uma zona
residencial ou de veraneio para recifenses abastados.
O relato mais autêntico sobre a fase
que antecedeu o Náutico foi feito por um daqueles rapazes, Hermann Ledebour:
Em
1897, um grupo de rapazes amantes do remo, tendo à frente João Victor da Cruz
Alfarra, costumava alugar embarcações na antiga Lingueta , de onde partiam em
direção à Casa dos Banhos, Ilha do Pina e algumas vezes, rio acima até Poço da Panela,
Apipucos, etc.
Uma regata havia sido marcada para o dia 21 de novembro
daquele ano. Fazia parte dos festejos para recepcionar as tropas legalistas que
acabavam de voltar vitoriosas ao Recife, após o término do movimento de
Canudos, com a derrota do Conselheiro e seus seguidores. A prova náutica foi um
sucesso, o que serviu de estímulo para que fosse criada uma associação que
recebeu o nome de Clube dos Pimpões, que contava com a participação dos
empregados das ruas Direita e Rangel. Algumas competições foram, a partir de
então, disputadas com muito entusiasmo pelos dois grupos, os da antiga Lingueta
e os da nova agremiação, o pessoal do novo Clube dos Pimpões.
Eram dados os primeiros passos para a
criação de uma agremiação destinada a escrever páginas gloriosas em sua
existência. O Clube dos Pimpões logo foi transformado em Clube Náutico
Capibaribe ao ser reorganizado.
Antes da oficialização, com nome e
data, do Náutico, houve duas tentativas de agrupamento de uma turma de
remadores numa associação. Assim, inicialmente apareceu o Clube dos Pimpões.
Depois veio o Recreio Fluvial. Em dado momento, no intervalo de tempo entre o
nascimento de um e outro, chegou-se a criar um embrião do Clube Náutico
Capibaribe, sob esta mesma denominação. Como o Clube dos Pimpões e o Recreio
Fluvial, teve vida efêmera, para depois retornar de maneira definitiva e
organizada.
O que existira antes não passava de um
movimento protagonizado por aficionados do remo, mas sem a documentação que
viesse a fazer com que o clube existisse oficialmente. Isso veio a acontecer em
7 de abril de 1901, com a lavratura da ata de fundação. Agora, sim, o Clube
Náutico Capibaribe passava a ser uma realidade. Existia, de fato e de direito.
Juntava-se ao Clube Internacional do Recife, que vinha do século anterior e
ainda hoje resiste ao tempo e às dificuldades.
Sede alvirrubra em tempos fora da pandemia (Arquivo do Blog)
ATA DA FUNDAÇÃO
Aos sete de Abril de mil
novecentos e um – 1901 – em o primeiro andar, número um do Caes da Companhia
Pernambucana, por convite do Snr. João Victor da Cruz Alfarra, compareceram o
mesmo e mais os srs Antonio Dias Ferreira, Esmeraldo Gusmão Wanderley. AS.
Ommundsen, Oswaldo de Barros Lins e Silva, Francisco Joaquim Ferreira, João
Vieira de Magalhães e Francisco Leandro Rocha. Sendo aclamado Presidente da
reunião o sr. Antonio Dias Ferreira assumiu a cadeira e declarou aberta a
sessão, nomeando para 1º Secretário o sr. Piragibe Haghissé, e para 2º dito o
sr. Francisco Joaquim Ferreira, e para Thesoureiro o sr. João Vieira Magalhães.
O sr. João Alfarra pedindo a palavra expoz o motivo da presente reunião o qual
é de fundação de uma sociedade para diversões náuticas com a denominação de
Clube Náutico Capibaribe – como a idéia foi por todos aprovada, pelo que o
mesmo sr. Alfarra apresentou mais as seguintes propostas: Que todos os sócios
admitidos até o dia da instalação definitiva do Clube, fossem considerados
instaladores. Que a jóia de cada um será da quantia de dez mil réis – 10$000 –
e a mensalidade de trez mil réis – 3$000 –, que o pavilhão da sociedade será
uma bandeira de dez pannos, o superior e o inferior encarnados e o do centro
branco com as letras C N C, iniciaes do Clube em pano azul e também para
distinctivo das embarcações do Clube e dos sócios, e que será usado na proa das
mesmas, um pequeno – jeck – encarnado com um círculo branco no centro do qual
terá em azul uma ancora e as iniciaes do Clube, que todos os presentes se
obrigassem a angariar o maior número de sócios para apresental-os na próxima
sessão, sendo os mesmos considerados instaladores. Em seguida o sr. Presidente
nomeou uma Comissão composta dos srs. Alfarra, Ommundsen, Oswaldo, Ferreira e
Piragibe, para confeccionar os respectivos estatutos, devendo apresental-os na
próxima sessão. O sr. Alfarra, usando ainda da palavra, agradeceu aos presentes
terem aceitado o seu convite comparecendo à presente reunião. O sr.Presidente
declarando fundado o “Clube Náutico
Capibaribe” - marcou o dia 14 do
corrente para proceder a eleição da Diretoria definitiva. E nada mais havendo a
tractar levantou a sessão, e eu Piragibe Haghissé 1º secretário lavrei a
presente acta que será assignada depois de aprovada. Assignados – Antonio Dias
Ferreira – presidente. Piragibe Haghissé 1º - secretário.
VITÓRIA SOBRE O SPORT
Nos primeiros anos de atividades, o
novo clube resistiu à prática do futebol, que estava virando moda pelo Brasil
afora, só aceitando-o mais tarde, diante da ameaça de perder muitos
sócios-atletas para o coirmão Sport. Este, nascido visando à prática
futebolística, crescia assustadoramente, uma vez que o esporte trazido da
Inglaterra começava a cair no gosto da população, principalmente da juventude.
Fundado especificamente para praticar
o remo, o Clube Náutico Capibaribe só veio a aderir ao futebol em 1909, oito
anos depois de fundado. Seduzidos pelo jogo da bola, associados do Alvirrubro
começavam a se bandear para os lados do Rubro-Negro, surgido em 1905.
O Náutico, como se sabe, reagiu desde os primeiros momentos à prática
do novo esporte. Liderada por Bento Magalhães, um dos fundadores, a maioria dos
diretores era contrária à implantação da nova atividade esportiva, alegando que
o clube tinha sido criado com a finalidade náutica. Além disso muita gente não
achava graça em ver um bando de marmanjos vestindo calções, correndo atrás de
uma bola.
A turma mais jovem, composta quase
toda de remadores, não pensava assim. Alguns daqueles rapazes começavam a se
misturar aos jogadores rubro-negros para participar dos treinos que se
realizavam na campina do Derby. Para não perdê-los, o Náutico, por decisão do
presidente Ernesto Pereira Carneiro, terminou aderindo ao futebol. Numa
Assembleia Geral realizada em 14 de julho de 1909 houve a reforma dos estatutos
e foi criado o Departamento de Esportes Terrestres, cuja direção coube a Camilo
Pereira Carneiro, irmão do presidente do clube.
Na sua edição de 12 de maio daquele
ano, o Jornal Pequeno já fazia uma
pequena referência à adesão do Náutico ao futebol, dizendo: “Consta-nos que os rapazes do Náutico tratam
de formar um eleven para bater-se
com os do Sport Club”.
O mesmo jornal, em 21 de junho,
voltava a falar sobre o futebol alvirrubro, agora oficializado, como relatou o
pesquisador Carlos Celso Cordeiro,
na primeira parte do seu Náutico –
Retrospecto de Todos os Jogos. Eis a nova notícia:
“Houve
hontem no magnífico ground do Derby o primeiro match-training dos estimados
rapazes do Náutico. Às 5 horas da manhã lá estavam já todos os moços que deviam
parte no jogo, alegres e promptos para entrar em combate. Foram logo designados
os lugares dos jogadores que tomaram lugar no match-training. Pertencem a este team os arrojados foot-ballers:
R.Maunsell, Hermann Ledebour, João Drayer e Artur Lundgren. Os
ensaios terminaram pouco depois das 8 horas da manhã, deixando a melhor
impressão ao sr. R. Mausenll, instructor dos moços. Serviu de referee o sr.
Hermann Ledebour. Damos parabéns aos rapazes do Náutico pelo bonito começo no
foot-ball”.
Assim
que decidiu acatar o futebol, o presidente Ernesto Pereira Carneiro acertou um
amistoso com o Sport. Assim, no dia 24 de julho de 1909 era disputado o
primeiro Náutico x Sport, hoje chamado de Clássico dos Clássicos, e que este
ano completará cem anos.
O jogo foi realizado no British
Club, na área onde se situa o Museu do Estado de Pernambuco, na confluência da
Av. Rui Barbosa com a Rua Amélia e atraiu um grande público. Apesar de ser um
principiante, o Náutico venceu o duelo com os veteranos rubro-negros pela
contagem de 3 x 1, o que causou uma imensa surpresa. Os gols alvirrubros foram
assinalados por R. Maunsell (2) e Thomas.
Na notícia do jogo, o Jornal Pequeno anunciava que o Náutico
vestiria camisa branca com “distintictivo” e calção na mesma cor e utilizaria
estes jogadores:
Goal keeper – H. King
Full Backs – E. Montagne Smith e H. A. R. Avila
Half Backs – R. Ramage, F. M. Ivatt e John Cock
Fowards – A. Silva, H. Grant Anderson, R.
Maunsell, D.Thomas e João Maia.
Reserva – Mc Pherson.
Line’s man – A. Chalmers
O
Sport, de camisa encarnada e preta e calção branco, alinharia:
Goal keeper - - L.Latham
Full Backs – N. D. T Oliver e W.H. Muller
Half
Backs – Frank Fellows, W. Pickwood e Willie Robinson
Fowards – Alberto Amorim, S. T. Marsh, L.
Griffith, C. Chalmers e J. Amorim Jr.
Reservas – O. Von Sostren e A. Lundgren
Line’s man – Guilherme (Aquino) Fonseca
Predominava
num e noutro times a linhagem ou a descendência inglesa.
Começava
assim a maior rivalidade do futebol pernambucano.
Republicado no meu Blog
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