ALÔ, ALÔ, SAUDADE-Paulo Moraes

 Entre minha Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru

 



 


Olá, amigo. Vou relembrar, agora, minha trajetória esportiva em Caruaru, onde residi por sete anos.

   Saí de Santa Cruz do Capibaribe, no dia dois de janeiro de 1957. Foi numa manhã de segunda-feira de muito sol. Viajei na carroceria de um caminhão. Um Ford ou Chevrolet, que eram as marcas de caminhão da época. Deixei para trás meu Ypiranga. Meus amigos, minhas bolas de meia.

   Inicialmente fui morar em Barra de Taquara, um distrito da Capital do Agreste, vizinho ao hoje famoso Alto do Moura dos bonecos de Vitalino, o artista inesquecível do barro massapê. Os dois lugares ainda pertencem a hoje chamada 

Capital do Forró.

   Lá, o futebol, pelo menos, pra mim, não existia. Do que lembro-me: de uma racha, disputado somente uma vez, com bola de borracha. Numa estrada que dava acesso ao sítio onde ficava a minha casa; de um amistoso entre os times do Alto do Moura e do sítio Serra dos Cavalos, local do açude que abastecia Caruaru. Dois a dois, o placar. Recordo que um dos times era rubro-negro, acho que o esquadrão do Alto do Moura. Em minha companhia, foi o irmão Luiz, que foi morar, ainda jovem, com Deus. Era mais novo do que eu. Tinha ele uns cinco anos. Eu era mais velho, estava com onze. Fomos a pé. Era um pouco distante. Quase ninguém assistiu ao jogo. O campo era separado de nós, pela lateral marcada de cal. Nem estaca havia pra gente se escorar.

   Ouvi pela primeira vez um jogo. Foi na casa de uma fazenda vizinha, de um amigo de meu pai. A irradiação foi feita pela Rádio Difusora, a única da Região, na época, e que hoje se chama Rádio Jornal. Eu, sozinho na sala de visitas, acompanhei o duelo entre os dois maiores rivais do Campeonato Caruaruense, o alvinegro Central e o tricolor Vera Cruz. Não sei mais qual foi o resultado. Na minha memória, a informação do meu irmão Lenildo, que vivia na casa de um tio na cidade. A notícia dava conta da vinda do América carioca para um amistoso em Caruaru. Ele, que já era torcedor do Náutico, prometeu me levar pra ver o jogo. Não fui. Isso porque o amistoso não se concretizou.

   Passamos três meses na saudosa Barra de Taquara. Lá, como diria o também saudoso Ataulfo Alves, eu era feliz e não sabia. Relato também, que, em Taquara catava nos jornais velhos, que embrulhavam as compras feitas na feira de Caruaru, aos sábados, pela minha madrasta Bernadete, as notícias do futebol pernambucano.

  Em Caruaru, comecei a gostar do Vera Cruz, o tricolor da rua Preta, uma rua conhecida e famosa, da Terra dos Avelozes. Aveloz é uma planta encontrada no Nordeste. No Agreste e no Sertão, então...Era a planta que cercava o campo do Ypiranga, em Santa do Capibaribe. Não posso deixar de registrar. Foi em Caruaru que vi a maior festa de rua de todos os tempos. Isso na minha visão. Foi na solenidade do centenário da cidade. Era um mar de gente na Avenida Rio Branco, sempre chamada de Rua da Matriz (é nela que fica a catedral Nossa Senhora das Dores). Foi no dia 18 de maio de 1957. 

Ypiranga do célebre goleiro Ze Fuminho, deitado, de calção escuro, e o velho campo com cercas de aveloz por todos os lados


  Nesse mesmo ano vi, ao lado do primo Otávio que era torcedor do Central, o Vera Cruz ganhar do alvinegro e conquistar o título municipal. Dizem que meu tricolor, já desaparecido, venceu por dois a um. Mas pra mim, o jogo foi um a zero. A dúvida perdura. Fiquei tão feliz, tão feliz, que subi o morro do Bom Jesus junto aos jogadores campeões históricos de Caruaru centenária. Ainda tenho na cabeça a formação do Vera Cruz: Inaldo, Berto e Bartolomeu; Zé Pafigo, Lima e Celedino. Ou era Zé Bom. Pipa, Bastos, Felica, Cebinha e Arnon. Um detalhe: Cebinha e mais Zézinho de Tutu e Pereirinha, do Central, jogariam no América da Capital. O jogo foi disputado no campo do Vera Cruz, que ganhou o nome depois, de Estádio Antônio Inácio de Souza. O estádio ganhou esse nome em homenagem ao importante dirigente do clube, que morreu em maio, ao sofrer um infarto durante um amistoso com o próprio grande rival Central. Foi emoção demais num gol do centroavante Pernambuco, que estreava no time. Pernambuco que tinha muita fama, fora contratado depois de defender o Central. O Vera Cruz venceu a partida, por um a zero. Com o gol de Pernambuco. 

  Vou ficando por aqui. No próximo comentário continuo com minhas recordações no futebol caruaruense. Até lá, querido amigo. E querida amiga. 

 

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