Lenivaldo Aragão
Reunião na FPF: Rubem Moreira, Leopoldo Casado, Gilvan Brandão, (NI), (NI) e Alcides Teixeira; na outra fila, Clécio Andrade, jornalista Lenivaldo Aragão, Luiz Brotherood e Luiz Amorim |
Em 1964, com o Náutico buscando mais um título de
bicampeão pernambucano, o técnico Alfredo Gonzalez se indispôs com a direção do
clube no dia de uma viagem a Belém pela Taça Brasil. Sequer compareceu ao
aeroporto para embarcar. O dirigente Wilson Campos conseguiu retardar em quase
uma hora a decolagem do DC 6 da Varig, enquanto o médico Bráulio Pimentel
procurava demover o argentino, seu amigo, de sua birra. Nada feito.
O comando da equipe foi entregue provisoriamente ao
assistente técnico Mituca, mais tarde substituído pelo mineiro de vivência
carioca Davi Ferreira, Duque. Este, que pegou o bonde andando, levou o Timbu à
conquista do bicampeonato, de forma invicta.
Caiu na graça dos cartolas, dos torcedores e da imprensa.
A diretoria alvirrubra procurou renovar seu contrato, mas isso não aconteceu.
Os dirigentes consideraram muito alta a proposta feita por Duque para
permanecer nos Aflitos.
O treinador arrumou suas malas a fim de regressar para o
Rio, viajando no seu fusquinha. Procurou-me para uma entrevista, relatando os
motivos que o haviam levado a deixar o Náutico. Foi à Redação do Diario de Pernambuco, onde eu
trabalhava, porém, desconfiado como era, achou melhor que fôssemos a outro
lugar. No DP havia um entra-e-sai
constante e naquele momento, o que ele pretendia era ficar oculto.
Optamos pelo tradicional Restaurante Maxime, no Pina,
onde havia alguns reservados que protegiam seus ocupantes de olhares curiosos.
Duque ainda se sentiu inseguro. Foi quando resolvi levá-lo até minha
residência, em Casa Amarela.
Duque me concedeu a entrevista tranquilamente, tendo
feito algumas críticas ao que chamava falta de profissionalismo dos dirigentes
alvirrubros. Quando o jornal chegasse às bancas e às residências dos
assinantes, já estaria longe do Recife e da repercussão que suas palavras causariam.
À noite, a diretoria do Náutico resolveu aceitar sua
proposta. Coube ao advogado e dirigente alvirrubro Lula Amorim (Luiz José
Dubeux Amorim), levar a boa nova ao técnico, que morava num apartamento seu, no
Duarte Coelho, edifício onde está localizado o cinema São Luiz.
Ao conversar com o treinador, Lula Amorim foi informado
da matéria que sairia no DP, o que
irritaria profundamente os diretores do Náutico, e a renovação iria de água
abaixo de uma vez por todas.
Numa época em que não havia celulares, Lula começou a
empreender uma verdadeira maratona para me localizar após ser informado por
telefone de que eu não estava mais no jornal. Ao mesmo tempo não havia mais
ninguém da Editoria de Esportes, a quem pudesse expor a situação.
Por sorte conseguiu me localizar no Bar Savoy, recanto de
boêmios, intelectuais, políticos e jornalistas. Chamou-me apressadamente,
pedindo por tudo para evitar a publicação da entrevista. Como a situação havia
mudado e por nunca ter atuado como coveiro do futebol pernambucano, achei que
era meu dever colaborar, mesmo porque o dirigente não estava impondo, apenas
pedindo educadamente. Como estava pertinho, fui até a oficina do Diario, narrei o drama ao chefe, Seu Marrocos,
por coincidência, torcedor do Náutico. Já tinha em mãos uma das célebres
matérias de gaveta, muito úteis nessas ocasiões. Foi só retirar uma e colocar a
outra. Ainda bem que o jornal, embora praticamente pronto para rodar, ainda
recebia o detalhes finais.
A pátria estava salva, para alegria do dirigente
alvirrubro. E a entrevista entrou por uma perna de pinto e saiu por uma perna
de pato.
Lula Amorim, personagem de peso desta história, deixou o
nosso mundo nesta terça-feira (3). Uma grande perda. Aos seus familiares os
meus sentimentos, registrando a satisfação de ter convivido durante um bom
tempo com uma pessoa correta e de uma exemplar fidalguia. Seu sentimento de
alvirrubro tem um herdeiro, o filho Manuel, tão apaixonado pelo Náutico, quanto
era pai.
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