A FUGA DE ALTAMIR, OU POR OUTRA, ALMIR
(Foto: Blog do Flavio Ramalho) |
Quando Almir, o
Pernambuquinho, começou a explodir no juvenil do Sport ao lado de Manga, Elcy
etc., passou a ser paquerado pelo olheiro do Vasco da Gama nestas paragens,
Cier Barbosa. Naquela época, meados da década de 50, falar por telefone para
outros Estados constituía um verdadeiro exercício de paciência. O freguês se
inscrevia na Radional e tome espera, até de um dia para outro. Ou mais. Para o
Vasco era importante contar com um informante por aqui. Este papel Cier exercia
muito bem.
Ele, que já tinha sido técnico do juvenil do Santa Cruz e dirigente do Ferroviário, não era visto com bons olhos pelos cartolas, que o consideravam um perigoso aliciador. Funcionava como uma espécie de ponta de lança do dirigente vascaíno Edgar Campos, pernambucano radicado no Rio, dirigente vascaíno, que terminaria voltando para sua terra, onde trabalhou com muita competência como superintendente de futebol ou coisa que o valha no Sport, Náutico e Santa Cruz.
Por
intermédio da dupla já tinham ido para o clube de São Januário Vavá e Adésio,
saídos da Ilha, a mesma origem de Almir. Sabendo do assédio vascaíno, amigos e
até mesmo alguns profissionais do Sport, como o paraense Zé Maria, durante
muitos anos capitão do time, aconselhavam o jovem e promissor atacante, no
sentido de não perder a oportunidade. Almir terminou topando a parada após
receber a permissão de Seu Arlindo, o pai, por sinal, torcedor do Santa Cruz.
Vale salientar que o Náutico também se mostrava interessado no promissor atacante,
mas o sucesso de ex-rubro-negros no Vasco, fez Almir, ainda amador, preferir o
Almirante.
Começou a ser elaborado um
plano de fuga. Sim, fuga, uma vez que se o Sport descobrisse, a situação se
complicaria. Até os carregadores de malas no aeroporto viviam de olho,
instruídos ou gratificados para darem alguma pista sobre Almir ou qualquer
outro garoto do Leão que pintasse por lá. Ou seja, os dirigentes já viviam
desconfiados.
Sem poder agir às claras, o
Vasco ao mandar um telegrama pela Western – concessionária inglesa que
concorria com a italiana Italcable, nas comunicações telegráficas – avisou que
havia enviado passagem aérea pela Cruzeiro do Sul para ALTAMIR. É que tudo
teria que ser sigiloso, pois havia o perigo de alguém dedurar a trama.
Veio o dia da viagem. Edgar
Campos havia embarcado para o Recife, secretamente, a fim de tomar as providências.
Seguiram os três, Edgar, Cier e Almir num táxi para o Aeroporto dos Guararapes.
Quando lá chegaram tiveram uma surpresa. Depararam-se com a delegação do Sport,
que esperava o voo, que estava atrasado, para iniciar no Pará uma excursão ao
Norte-Nordeste, o que era comum, na época. Claro que Almir não podia se expor e
diante daquela situação inesperada, teve que ficar escondido no táxi, enquanto
a dupla agia. Por sua vez, jogadores rubro-negros, como Bria, Manga, Carijó,
Eliezer, Traçaia e outros desfilavam pelo saguão do aeroporto. Nada de o Sport
embarcar. E Almir de molho, no táxi. Era dezembro de 1956 e o movimento
crescia.
Até que foi dada a última
chamada para os passageiros do voo da Cruzeiro, que se destinava ao Rio. Almir,
seguindo instruções de seus ‘sequestradores’, esperou que os últimos
passageiros entrassem no avião e, já com a ficha de embarque na mão, deu um
enorme pique aeroporto adentro, naquela de passageiro atrasado. Ou seja, o
craque fujão saiu pela tangente. Se alguém do Sport viu, sequer imaginou que o
menino correndo desembestado para pegar a aeronave, era o garoto que tanto
furor fazia no juvenil e que vez por outra era aproveitado pelo técnico Dante
Bianchi em algum amistoso.
Só uns dez dias depois é que
a direção rubro-negra soube da irreparável perda. Mas aí Inês já estava morta.
Comentários
Postar um comentário