Argentina
arrasadora na despedida do Brasil
A vitória sobre o Equador deu novo ânimo à Seleção Cacareco,
que partia agora para seu jogo mais perigoso. O adversário seria a Argentina,
time no qual brilhava Sanfilipo, a nova sensação do futebol da terra do tango,
e que anos depois defenderia o Bangu e o Bahia.
Como o Brasil não podia ser mais campeão,
admitia-se a possibilidade da obtenção do vice-campeonato, o que já seria muito
bom. Porém, para que isso acontecesse seria necessário derrotar a Argentina.
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O incentivo do pequeno torcedor a Waldemar antes do jogo do adeus |
Os brasileiros entraram
em campo pensando em endurecer o
jogo, baseados num raciocínio lógico: se o Equador empatara com a Argentina por
1x1, o Brasil, que vinha de uma vitória de 3x1 sobre os equatorianos, estava
capacitado a ombrear-se com seu velho rival. Porém, a Cacareco esteve
longe de mostrar o futebol apresentado contra os
donos da casa e foi sufocada pela força
avassaladora dos argentinos.
Logo aos 2 minutos, a Argentina abria o placar:
Garcia. A Cacareco parecia estática,
enquanto los hermanos procuravam
tirar proveito da situação. Apesar de o goleiro Waldemar ter feito notáveis
intervenções, os argentinos voltaram a balançar a rede aos 28, com Sanfilipo: 2x0.
Na segunda fase, Gentil Cardoso, procurando
encontrar o caminho da reação, colocou Goiano, descansado, em lugar de Elias.
De início, deu certo. Aos 18, Geraldo diminuía a diferença no placar: 2x1. A
Cacareco passou a fazer pressão e teve
uma magnífica chance desperdiçada por Goiano. Este ficou frente a frente com o
goleiro Negri, entretanto, isolou a bola.
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Sanfilipo, sensação argentina |
Animado, o selecionado argentino cresceu, deixando
os brasileiros atônitos. E a tônica
da partida passou
a ser esta:
a Argentina atacava e o Brasil se defendia. Sanfilipo fez o terceiro gol argentino aos 44 e fechou o
placar no segundo minuto dos acréscimos: Argentina 4x1 Brasil.
Brasil: Waldemar;
Zequinha (Geroldo), Edson, Clóvis e Givaldo; Zé Maria e Geraldo; Traçaia, Zé de
Melo, Paulo (Biu) e Elias (Goiano).
Argentina: Negri; Murva,
Arido e Guidi; Marino e Arredondo; Facundo, Sanfilipo, Garcia, Ruiz e Beleín.
Árbitro, Steban Mariño, do
Uruguai.
ELOGIOS, APESAR DE TUDO
A Cacareco deixou uma boa impressão. Para
os jornais do Equador, bem como para os treinadores do Uruguai (campeão),
Argentina (vice) e Equador, o futebol apresentado pelo Brasil foi de alto
nível.
O treinador da Seleção Equatoriana, Juan
Lopez, disse que a equipe brasileira causou-lhe uma boa impressão.
–
Era fácil constatar que tinha um padrão de jogo definido, jamais agindo
desordenadamente”, disse o técnico do Equador.
Aliás, de uma coisa o vaidoso Gentil
Cardoso e orgulhava. As equipes treinadas por ele tinham estilo. Sabiam o que
queriam e estavam longe de jogarem de maneira estabanada.
Depois de destacar as qualidades técnicas
de alguns jogadores, principalmente do goleiro Waldemar, Juan Lopez arrematou:
– Só um país, como o Brasil, pode se dar ao
luxo de formar várias seleções jogando um futebol de categoria.
Corazzo, o técnico do Uruguai, o campeão do
Sul-Americano Extra, não deixava por menos:
– Jamais pensei que fora do Eixo Rio-São
Paulo pudesse ser formada uma seleção de tanta capacidade técnica.
RETROSPECTO DO
CAMPEONATO
Brasil 3x2 Paraguai
Uruguai 4x0 Equador
Argentina 4x2 Paraguai
Equador 1x1 Argentina
Brasil 0x3 Uruguai
Uruguai 5x0 Argentina
Brasil 3x1 Equador
Brasil 1x4 Argentina
Uruguai 1x1 Paraguai
Equador 3x1 Paraguai
Campeão, Uruguai
Vice-campeã, Argentina
3º colocado, Brasil
4º colocado,
Equador
5º colocado,
Paraguai
VITÓRIAS EM AMISTOSOS
O espírito da Seleção Cacareco não era este, mas a
participação no Sul-Americano terminou se constituindo numa adequada preparação
para o Brasileiro de Seleções, que vinha a seguir.
A equipe brasileira foi convidada para realizar um
amistoso com a seleção do Equador, que pretendia se vingar da derrota de 3 x 1
sofrida no campeonato. Não conseguiu, uma vez que o placar foi novamente
favorável aos brasileiros: 2 x 1.
Na viagem de regresso ao Recife, a Cacareco
despiu-se de sua condição de Seleção Brasileira contra os selecionados de duas
cidades peruanas. Venceu os dois jogos. Em Piúra o placar foi 4 x 2 e em
Arequipa, 3 x 1.
Na madrugada de 8 de janeiro de 1960, após 42 dias
fora de casa, a delegação desembarcava no Recife. Os jogadores teriam apenas
alguns dias de descanso porque logo começaria o Campeonato Brasileiro, que será
também contada em capítulos, como continuação desta reportagem.
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O Brasil num dos amistosos.. Em pé, Gentil Cardoso, Edson, Geroldo, Waldemar, Zé Maria, Servíilio e Givaldo; agachados, Traçaia, Zé de Melo, Paulo, Geraldo e Elias |
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