Em dezembro de 1959, Pernambuco representou o
Brasil num Campeonato Sul-Americano Extraordinário, realizado na cidade de Guayaquil,
no Equador. Trata-se da atual Copa América, assim denominada após a entrada de
seleções das Américas do Norte e Central. Presença, além do país anfitrião, da
Argentina, Brasil, Uruguai e Paraguai.
Edição especial sobre a Seleção Cacareco |
Não se tratava de um torneio oficial, mas de um evento
festivo regido pela Conmebol, para marcar de forma solene a inauguração do moderno
e portentoso – para a época – Estádio Modelo, hoje chamado Alberto Spencer.
Guayaquil, mesmo não sendo a capital, faz a nação equatoriana pulsar,
tornando-se mais poderosa do que Quito.
HINO NACIONAL
Sobre a chamada Seleção Cacareco, A LMA Publicações editou recentemente o tabloide Jornal CLÁSSICO Especial, cuja distribuição,
gratuita, foi prejudicada pela chegada da inditosa praga chamada Coronavírus. Vou
procurar trazer o conteúdo do jornal para meus seguidores, em doses homeopáticas.
Começo com uma história que não está nas páginas,
mas faz parte do ambiente vivido na época.
A Seleção Cacareco estava em preparativos para o
torneio. Perto da data de embarque da delegação, foi criado um curso relâmpago
para a turma aprender o Hino Nacional.
Oficial reformado da Marinha, com passagem pela
Aeronáutica, o técnico Gentil Cardoso dizia ser uma vergonha, “o selecionado
nacional representar o Brasil no exterior e os jogadores não saberem cantar o
hino de sua Pátria.”
Para comandar as aulas de canto não foi difícil a
Gentil contratar o regente da banda de música da Base Naval, quando o comando
do Terceiro Distrito Naval era sediado no Recife, de onde foi transferido para
Natal.
Todos os jogadores e os membros da Comissão Técnica
participavam dos ensaios. Até Rubem Rodrigues Moreira, o presidente da
Federação Pernambucana de Futebol, que chefiaria a delegação, foi convidado a
tomar parte.
Orgulhoso do fato de Pernambuco estar se preparando
para representar a Nação, o Comodoro não se fez de rogado.
DESAFINADO
Numa bela manhã ensaiava-se o
Hino na concentração do Santa Cruz, ainda no tempo do Alçapão do Arruda,
onde a equipe realizava seus treinos.
A certa
altura, o aplicado regente deixou sua posição na frente do grupo e,
batuta à mão, colocou-se junto de Rubão para melhor ouvir suas evoluções vocais.
Escutou só alguns segundos e
interrompeu a aula.
– O senhor está desafinado – disse o músico,
dirigindo-se ao explosivo e desentoado cartola, que fez cara de espanto diante da
intervenção do maestro. Depois de respirar, o Poderoso Chefão contra-atacou num
linguajar que lhe era muito peculiar:
– Desafinado uma
porra! Pensa que eu estou apreendendo isso agora?
Todos ficaram olhando para Rubem Moreira, enquanto
o pobre maestro marinheiro, acostumado
à rigidez da caserna, surpreso e envergonhado, fitou o aluno rebelde, de olhos
arregalados. E assustou-se mais ainda com a inesperada decisão do dirigente:
–E quer
saber de uma coisa? Eu não vou
ensaiar mais porra nenhuma, tá
ouvindo, seu Gentil?
Dito isto retirou-se bruscamente, deixando o
professor a ver navios. E os jogadores
fazendo o maior esforço para engolir o riso.
Superada a borrasca, a aula prosseguiu. Sem Rubão e
seus rompantes.
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