A primeira estrela ninguém esquece



Por Antônio Matos, de Salvador *


O sistema de disputa da Taça Brasil era mata-mata e, apesar do pioneirismo de um torneio nacional, com a participação de 16 clubes, ganhar a fase regional era algo factível para o Bahia. Na verdade, sua única preocupação nesta etapa inicial era com o Sport, que formara um grande time e que tinha como grande astro o armador uruguaio Raúl Bentancor.

 Bahia rumo ao título. Em pé - Nadinho, Leone, Henrique, Flávio, Vicente e Beto; agachados-  Marito, Alencar, Leo, Bombeiro e Biriba


Com o elenco reforçado por Beto (zagueiro), Flávio e Mário (meios-campistas) e Alencar, Léo e Carioca (atacantes) e tendo no comando o treinador Ephigênio de Freitas Bahiense, o Geninho – um ex-craque e também já famoso como técnico no futebol carioca – o Bahia se preparara convenientemente para a competição.

Mesmo veterano, com 31 anos, a contratação de Léo, antigo ídolo do Fluminense (RJ), foi um achado para quem procurava um artilheiro do quilate de Carlito, já sem o brilho dos anos anteriores. Sua comprovada experiência teve fundamental importância para alavancar a carreira do jovem Alencar, com pouco mais de 21 anos e trazido do futebol cearense, com quem fez, o que se chamava na época, ‘dupla de área’.

Tudo contava com o prestígio do presidente Osório Villas-Boas, de livre trânsito nos grandes clubes brasileiros, e o indispensável apoio financeiro de Benedito Borges, vitorioso empresário do ramo de automóveis e vice-presidente de futebol.

Como previsto, o Bahia atropelou o CSA, seu primeiro adversário, goleando-o por 5 x 0, no Mutange, em Maceió, e ganhando sem sustos, aqui em Salvador, na Fonte Nova, por 2 x 0.  Já os jogos contra o Ceará Sporting não foram fáceis. O empate em 0 x 0, na primeira partida realizada no Presidente Vargas, em Fortaleza, não fez justiça ao bom futebol do campeão cearense.

Nos dois outros compromissos, na Fonte Nova, o Bahia não soube fazer valer o mando de campo e empatou novamente, desta vez em 2 x 2 e em 1 x 1. A sofrida classificação só veio no final da prorrogação, com um golzinho salvador de Léo.

Ao eliminar o Auto Esporte, da Paraíba, o Sport, campeão da região Norte, se habilitou para enfrentar o Bahia, campeão do Nordeste. Na Fonte Nova, deu Bahia, com um apertado 3 x 2. Na Ilha do Retiro, um resultado inesperado: Sport 6 x 0.

Quatro dias depois, e no mesmo local daquele vexame histórico, o Bahia começou a dar provas de que tinha condições de dar voos bem mais altos, vencendo o Sport por 2 x 0 e levantando o título de campeão do Norte-Nordeste.

Beneficiado pelo esdrúxulo regulamento, que permitiu que entrasse já na fase semifinal da competição, o Vasco da Gama era o seu próximo desafio. Sem medo de ser feliz, eliminou o supersupercampeão carioca, derrotando-o, inclusive, no Maracanã, diante de uma incrédula mídia, e chegou às finais com o Santos, que passara, com folga, pelo Grêmio.

Nem a fama nem o belo futebol santista intimidaram o Bahia, que venceu na Vila Belmiro, por 3 x 2, perdeu na Fonte Nova, por 2 x 0, numa noite memorável de Pelé, e ganhou a decisão, no Maracanã, pelo placar de 3 x 1. Isto lhe permitiu conquistar, há exatos 60 anos, a Taça Brasil de 1959 e a bordar a primeira estrela dourada na sua vitoriosa camisa. 
 
* Antônio Matos, jornalista e delegado de Polícia, é autor do livro ‘Heróis de 59’, que narra a conquista da I Taça Brasil pelo Bahia.


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