LENIVALDO ARAGÃO, 31/03/2020
Os torcedores do Centro Sportivo Alagoano, CSA, principalmente
os mais antigos, estão a lamentar a perda do campo do Mutange, o antigo Estádio
Gustavo Paiva, que, após o advento do Rei Pelé passou a servir de centro de
treinamento ou local de amistosos.
Instalado no bairro do Mutange, em Maceió, constituía-se, há 97
anos, no território sagrado do Azulão. Tinha o mesmo significado, por exemplo,
que o Estádio dos Aflitos, oficialmente Eládio de Barros Carvalho, tem para a
torcida do Náutico.
Perto de fazerr cem anos, o campo do CSA sai de cena (Felipe Madruga Nyland) |
Comparando as duas situações, a torcida alvirrubra durante cinco
anos amargou a sensação de perda, principalmente ao descobrir que a troca dos
Aflitos pela Arena de Pernambuco, onde até para treinar, o Timbu precisava pedir
permissão, aviltava e depreciava a tradição de um dos mais tradicionais clubes
do Nordeste, assim como é o CSA.
Até que a timbuzada pôde vivenciar a célebre frase atribuída ao festejado
político paraibano José Américo de Almeida – “Voltei. Voltar é uma forma de
reviver, pois ninguém se perde no caminho da volta.”
E as tardes domingueiras nos Aflitos voltaram a alegrar e a
movimentar o bairro. O chão alvirrubro, tão consagrado e festejado estava
novamente nas mãos de seu dono. Para sempre!
RACHADURAS – Já o povão que grita,
vibra e chora pelo CSA não pode ter o mesmo sentimento. O Mutange, tal qual a frase
proferida num antigo programa humorístico da Globo, “já não lhe pertence.”
Ali estive várias vezes, cobrindo para o Diario de Pernambuco, jogos de equipes pernambucanas contra o dono
da casa ou mesmo decisões do Campeonato Alagoano entre o “Ceceá e o Cerrebê”,
como brincava Nilton Oliveira, consagrado jornalista da terra, com quem conviveria
anos depois, no Recife, na Rádio Clube e
no Diario. Tempos de Aldo Ivo, do ‘gigante’ Márcio Canuto, tal qual o
locutor que vos fala, ainda no início da carreira, quando tinha o apelido de
Canelinha. E como esquecer o gentil presidente Vicente Bertolini?
O CSA, pode-se dizer, foi tangido pelo progresso. Há vários
anos, prédios e até mesmo o solo da região onde se situa, foram afetados por
rachaduras e fendas causadas pela exploração do sal-gema, tornando ruas e até
bairros inabitáveis.
O CSA não saiu de mãos abanando, pois foi devidamente indenizado
pela Braskem, a mineradora que extrai o sal-gema.
SAUDOSISMO – Muito adepto do CSA
deve ter ido às lágrimas, nessa segunda-feira (30/03/2020), com a comunicação
feita pelo presidente do clube, Rafael Tenório, ao anunciar a “triste partida” –
aqui lembrando uma penosa música de Luiz Gonzaga, o Rei do Baião.
– Já choramos, esperneamos, nos abraçamos... Agora é uma nova
vida. É como essa pandemia que está assolando o mundo. Nós temos que esperar
passar para voltar à normalidade – afirmou o dirigente.
Mais adiante:
– O sentimento é de saudosismo. Já passou, agora é cuidar da
vida. Fazer parte só da história que o CSA passou, quase um século lá no
Mutange. É um ciclo que se encerrou e que agora teremos que ter uma vida nova.
NOVA CASA – O CSA utilizará o
Estádio Nelson Peixoto Feijó, do Corinthians Alagoano. É lá que os jogadores se
apresentarão ao técnico Nelsinho Baptista quando cessar a quarentena imposta
pelo coronavírus.
O Nelsão, como é chamado, passa por melhoramentos desde janeiro,
justamente para receber o CSA, que lá ficará por tempo indeterminado. Ou seja,
até construir seu centro de treinamento.
A nova casa do Azulão foi inaugurado em 22 de abril de 2001,
podendo acolher quatro mil pessoas, Tem dois campos de treinamento, dormitórios,
cozinha e vestiários.
O Corinthians Alagoano deixou de usá-lo, depois que em 2013
fundiu-se com o Santa Rita, sediado na cidade de Boca da Mata.
Obs.: as declarações do
presidente Rafael Tenório, são trechos de uma entrevista por ele concedida ao Globo Esporte.
Comentários
Postar um comentário