Carnaval e lança-perfume
Duas histórias do livro “Basquetebol do Náutico:
História e estórias”, contadas por Hélio
Menezes, conhecido por Hélio
Picasso, que está na foto.
“Além de jogar basquete, estudar,
namorar e fazer boemia, brincar carnaval era uma de nossas atividades
preferidas. Provavelmente, para nós era o equivalente às raves da geração
atual. Nas festas do Náutico, armavam-se tendas de atendimento médico na quadra,
ao lado do salão da sede. Na maioria das vezes, quem atuava como enfermeiro das
tendas eram os massagistas das equipes de basquete e vôlei. Em um dos carnavais
do Náutico estávamos eu, Gustavo (Lima) e Alceu (Valença) pulando muito,
tomando muito rum com Coca-Cola, muita vodka com laranjada e, principalmente,
muito lança-perfume Rodouro, a essência dos nossos carnavais.
Quando já apresentávamos razoável teor
etílico e etéreo, resolvemos visitar a tenda médica para descansar. Ao
chegarmos lá, encontramos Zé do Vale, massagista-enfermeiro de plantão. Ele
precisava ir ao banheiro e, sem saber do estado de nós três, pediu para
tomarmos conta da tenda. Assim que Zé saiu, colocarmos as batas e ficamos
aguardando os possíveis pacientes. Nesse intervalo apareceu uma moça com um
corte na testa. Não tivemos dúvida; aplicamos sal de fruta Eno sobre o
ferimento e cobrimos com esparadrapo; a moça saiu feliz, com a testa espumando,
voltando para dançar, pois assim era o Carnaval.
Em meados de 62, o Náutico foi
disputar um torneio em Natal, no Rio Grande do Norte. A equipe era a adulta,
com Fernando Salatiel (Lourinho), Marcelo Salatiel, Viberto Rego, Luciano
Azevedo – que, diante da precariedade do pequeno avião (era tão pequeno que
primeiro levou os atletas e depois voltou para pegar as malas), passou toda a
viagem com uma imagem do Cristo Redentor na mão - seu irmão Fernando
Azevedo (Pixoto), outros que não lembro e alguns juvenis, entre os quais, eu,
Ricardo Jerônimo e Gustavo Lima.
Ficamos hospedados em um quartel, na
frente do qual havia um clube, dos oficiais, onde estava acontecendo uma festa
de carnaval. Todos nós pulamos muito e bebemos razoavelmente, voltamos ao
quartel, onde havia um tanque de guerra de madeira, que tinha sido usado para
um desfile de Sete de Setembro. Maquiamo-nos com pasta de dente no rosto, como
se fôssemos soldados camuflados, subimos no tanque e o empurramos pelas largas
escadas do quartel, às 3 horas da manhã, gritando “guerra, guerra!”, acordando
todo o quartel.
Até hoje não sei qual a autoridade
esportiva que intercedeu junto às autoridades militares para que não fôssemos
todos presos. E no dia seguinte, ainda vencemos o jogo."
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