Na Alemanha, num amistoso com o FC
Rottach-Egerd, o famoso Bayern de Munique deleitou sua torcida e a mídia
esportiva, aplicando uma goleada pela esmagadora contagem de 23 x 0.
Fantástico, sem dúvida. Nesse encontro, o jogador Corentin Tecisso foi o
destaque ao assinalar quatro gols.
A notícia espalhou-se pelo mundo. Os jogadores
do Bayern têm sido elogiados e badalados por causa do feito histórico. Só que o
Bayern com todo o seu potencial não conseguiu ultrapassar o pernambucano Central
Sport Club, que há muito tempo, precisamente no dia 2 de dezembro de 1951
estabelecia o mesmo placar sobre um time chamado Jocaru, em jogo do campeonato
promovido pela Liga Desportiva Caruaruense. Se os alemães soubessem disso
talvez tivessem se esforçado um pouquinho mais para passar a perna na Patativa
do Agreste. Ficou no empate.
Na goleada em Caruaru, o jogador mais
festejado foi Milton, por ter marcado 11 gols.
O sorridente goleador Milton, recebendo a visita do jornalista José Torres, em Natal, anos atrás |
Aproveitamos para lembrar a memorável
partida, publicando um texto do jornal editado por Alexandre Porto Larena em 11
de abril de 1969, quando o Central festejava seu cinquentenário. Vejamos:
Nos anos de 1942, 43, 44, 45 e 48, o Central conquistou as taças de
campeão da cidade nos certames promovidos pela Liga Amadora de Caruaru, a atual
Liga Desportiva Caruaruense. Em 1951, já no final do campeonato, os centralinos
vão a campo num domingo, 2 de dezembro, para enfrentar o Jocaru Futebol Clube,
agremiação dos gráficos do Jornal de Caruaru, de Mário Costa.
O redator esportivo de A Defesa, edição do mesmo dia, já previa a derrota
jocaruense: "Em vista da disparidade entre os preliantes, está a partida
fadada a verdadeiro fracasso".
O Jocaru, apesar de ser time de baixo índice técnico, constituído de
rapazes de no máximo 20 anos de idade, jamais pensara que naquele dia estava
reservado para si um dos maiores escores do futebol brasileiro: 23 x 0. Como
foi a marcação dos tentos em ordem cronométrica:
16.05 - É iniciado o jogo pelo Jocaru
16.10 - Moacir, do Central, assinala o 1º tento
16.13 - Milton (2 x 0)
16,13 - Milton (3 x 0)
16.21 - Milton (4 x 0)
16.22 - Milton (5 x 0)
Aí já houvera uma expulsão. Corró, do Jocaru. Ao terminar o 1º tempo os
jocaruenses só contavam com oito elementos
Às 17 horas é reiniciado o cotejo. O Jocaru, para espanto de todos só
retorna com seis elementos.
Afirma o dentista José Miguel dos Santos: "O juiz só podia está
(sic) torcendo pelo Central, porque era, como é hoje, inadmissível um time
jogar com seis jogadores. Naquela partida todos nós jogamos de goleiro e, no
fim, eram 11 contra 4."
O Central, às 17.01 por intermédio de Zezinho (de Tutu) aumenta o
marcador para 6 x 0.
17.05 - Milton (7 x 0)
17.07 - Zezinho (8 x 0)
17.08 - Zezinho (9 x 0)
17.10 - Walter (10 x 0)
17.12 - Lula (11 x 0)
17.15 - José Martins (12 x 0)
17.16 - Zezinho (13 x 0)
17.20 - Zezinho (14 x 0)
17.22 - Milton (15 x 0)
17.25 - Walter (16 x 0)
17.26 - José Martins (17 x 0)
17.30 - Zezinho (18 x 0)
17.35 - Milton (19 x 0)
17.36 - Milton (20 x 0)
17.38 - Zé Bom (21 x 0)
17.40 - Zé Bom (22 x 0)
17.42 -Milton (23 x 0)
Não haveria mais gol. Depois de deixarem o campo, os jocaruenses
dirigiram-se à sua sede, na rua Frei Caneca, e penduraram as chuteiras para
sempre. Houve choros e protestos.
Zezinho fez seis gols |
O jornalista Luiz Torres, em seu "Comentário" no jornal A Defesa da semana seguinte protestava
furiosamente: "Os alvinegros não tiveram compaixão, não tiveram sentimento
de humanidade e aproveitando a chance, fizeram uma exibição idiota de poderio".
Mas de nada adiantou porque o Central sagrou-se campeão. Os campeonatos
de 52, 53 e 58 também foram conquistados pelos patativas.
ERRO
HISTÓRICO
O feito de Milton, assinalando 11 gols, ainda
hoje é relembrado por desportistas mais antigos que testemunharam a goleada,
como o jornalista Hélio Vasconcelos:
– Eu era juvenil do Central, estava presente,
como espectador. Milton não era um grande jogador, mas sabia aproveitar as oportunidades.
Foram onze gols que ficaram na história.
Outros tomam conhecimento pela tradição oral,
uma vez que nem nascidos eram no dia daquele jogo.
Um detalhe é que no relato dos 23 gols do Central
feito meticulosamente pelo jornal A
Defesa, Milton só aparece com nove. Certamente houve alguma confusão por
parte do jornalista, uma vez que se existisse qualquer contradição, logo
surgiria uma polêmica. Todavia, até hoje jamais alguém contestou a quantidade
de gols assinalados por Milton, que anos depois foi morar em Natal, como
funcionário da Companhia de Cigarros Souza Cruz.
Na goleada, Zezinho que já começava a pintar
como futuro craque do Central, assinalou seis gols, mostrando um pouco de sua
vocação.
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