Por LUCÍDIO OLIVEIRA – médico e
escritor
Como a arbitragem está em foco, depois
do gol que entrou e não valeu, e com os constantes erros cometidos nas
primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro, A e B, trazemos alguns fatos curiosos
sobre o polêmico e apaixonante assunto.
Persona
non grata
Na década de 40, no século passado,
Sherlock (Argemiro Félix de Sena) passou um tempão sem poder entrar na Ilha do
Retiro, considerado persona non grata
pelos rubro-negros. Foi depois de um tumultuado Náutico x Sport em 1942, em que expulsou o atacante
Clóvis, que se envolvera em briga provocada pelos defensores alvirrubros Sabino
e Mário Ramos. Sherlock resolveu expulsar somente o jogador rubro-negro.
Sherlock em vários momentos |
O pessoal do Sport não perdoava Sherlock.
Um dia a Federação resolveu topar a parada, escalando Sherlock exatamente para
dirigir um Náutico x Sport na Ilha. Resultado: o ex-presidente rubro-negro João
Elysio Lauria Ramos, antes do início da partida entrou no gramado e, à vista de
todos, quebrou o seu próprio retrato emoldurado, que acabara de retirar da
galeria dos nomes ilustres que já tinham presidido o Sport.
Árbitro
confiável
Palmeira tinha um nome aristocrático: José
Mariano Carneiro Pessoa. Era um cara sisudo, sério. Tão respeitado que, mesmo
tendo deixado de apitar havia algum tempo, voltou a dirigir um Náutico x Sport
em 1947, quando na ocasião era o técnico do campeão da cidade, o Santa Cruz,
portanto, também interessado no resultado do jogo.
Cadê
o inglês?
O inglês mister Lowe era um dos
contratados pela CBD para a gente ir se acostumando com o jeito europeu de
apitar. Logo depois da Copa do Mundo, a Federação Pernambucana de Futebol
resolveu trazê-lo para dirigir jogos do nosso campeonato. Foi quando
realizaram-se aqui no Recife os Jogos Universitários. A final do futebol foi
entre Pernambuco e Paraná. Futebol totalmente amador, jogo de portões abertos,
o estádio da Ilha inteiramente lotado. Não sei se mister Lowe recebeu sua
parte, o correspondente à taxa de arbitragem.
Mas o certo mesmo é que não recusou uma
mordomia que lhe ofereceram os rapazes da Fape (Federação Acadêmica
Pernambucana de Esportes). Como bom súdito da rainha, recebeu de bom grado o
que lhe foi entregue pelo estudante de Direito Olímpio Mendonça, escolhido como
mediador dos entendimentos, uma garrafa do mais puro scotch totalmente tomada
pelo gringo antes do jogo. Resultado da partida: Pernambuco 3 x Paraná 2.
Pernambuco campeão brasileiro universitário de futebol. Mas Pernambuco tinha um
bom time. Ganharia o jogo independentemente do estado de sobriedade do
árbitro...
Recordista
Sebastião Rufino foi o árbitro
pernambucano que mais vezes participou de uma final de campeonato, exatamente
em oito oportunidades. Todos os três grandes foram campeões com Rufino no
apito.
Show
de uruguaio
Sem dúvida, a maior estrela como
árbitro de uma final em Pernambuco foi Esteban Mariño. Um show inesquecível sua
atuação como juiz da final do supercampeonato de 57. O Santa Cruz foi campeão,
mas teve seu goleiro Aníbal expulso de campo por Esteban Mariño no final do
jogo, devido à cera que vinha fazendo para passar o tempo.
O uruguaio Esteban Mariño |
Resultado
encomendado
E, para encerrar, duas historinhas que
servem de ilustração. A primeira, passada aqui mesmo. Contam que às vésperas de
clássico importante, um funcionário importante da Federação foi ao aeroporto
receber um juiz do Sul, de São Paulo, chamado para dirigir o jogo. Pergunta do
árbitro, logo ao descer do avião: “Quem ganha o jogo de amanhã?” E, ante a cara
de espanto do pernambucano, pelo inusitado da pergunta, apressou-se em tudo
esclarecer: “É porque lá em
São Paulo , ao sair a escala dos árbitros na sexta-feira, a
gente já fica sabendo quem vai ganhar no domingo...”
É
bom prevenir
A outra, que não se passou aqui,
serve, contudo, como ilustração. Afinal, a questão das arbitragens é igual em
qualquer parte. O Vasco armou um grande time na década de 40, pronto para ser
várias vezes campeão. A equipe foi entregue a um dos maiores treinadores da
América do Sul, o competente Ondino Vieira, não sei quantas vezes campeão pelo
Fluminense, e lá em sua terra, Montevidéu. Os melhores jogadores tinham sido
contratados, dois para cada posição, tudo a peso de ouro. Estava tudo pronto
para o início do certame. O presidente do clube, o dr. Ciro Aranha, procurou o
técnico para saber se precisava de mais alguma coisa para o Vasco ser campeão.
A resposta do mestre Ondino ao presidente: “Está tudo em ordem, presidente. O
Vasco não precisa de mais nenhum jogador. Mas é bom o presidente ir na
Federação procurar conversar os
juízes que vão apitar os jogos do Vasco”.
O presidente ficou sem entender. Como,
se com tudo à mão, o treinador ainda iria precisar da ‘ajuda’ dos árbitros?
Esclareceu o experiente Ondino: “Presidente, não adianta o Vasco ter bom time
se os juízes não apitarem direito. O senhor vai lá e conversa com eles para não roubarem
contra o Vasco. Assim, é bem mais garantido”.
(Qualquer
semelhança com pessoas ou fatos do momento atual ou de qualquer outro tempo é
mera coincidência...)
A
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