Sport x Bahia na I Taça Brasil (2)




Acaba de ser publicado em Salvador, o livro “Heróis de 59” sobre a conquista do título de campeão da I Taça Brasil pelo Esporte Clube Bahia. Para chegar ao topo do futebol nacional, o Esquadrão de Aço teve que superar o CSA, o Ceará, o Sport, o Vasco da Gama e o poderoso Santos da Era Pelé.

A epopeia do tricolor baiano é contada com riqueza de detalhes pelo jornalista, advogado e delegado de polícia da Boa Terra Antônio Matos. Este blog publica em três capítulos o que está escrito a respeito dos jogos envolvendo o Sport e o Bahia naquela competição. Vale salientar que somente participavam os campeões estaduais. Gente de Pernambuco, que de uma forma ou de outra colaborou com o autor, é por ele citada na fila de agradecimentos: Álvaro Claudino, Amaury Veloso, Dirceu Paiva, Ed Cavalcante, Joezil Barros, Lenivaldo Aragão, Paulo Moraes e William Ribeiro.

Um acidente de percurso
Sport Recife 6 x 0 Bahia

Embora tivesse perdido o primeiro jogo na Fonte Nova, o Sport demonstrara ter, assim como o Ceará Sporting, uma equipe bem armada e difícil de ser vencida, notadamente em seus domínios.

O que não passava pela cabeça do pessoal do Bahia é que precisando de um simples empate para chegar à fase semifinal da competição, seria humilhado em Recife, naquela fatídica tarde de sexta-feira, 30 de outubro, feriado do “Dia dos Comerciários”, com uma impiedosa goleada.

Bentancor esbanjou categoria na goleada


Não há dúvida que o time em nenhum instante se encontrara em campo, mas os momentos que antecederam a partida foram tenebrosos e até justificaram a apatia dos atletas.

Numa época em que sequer se discutia o direito do consumidor, a delegação, que iria embarcar na véspera do jogo, às 7 horas, no Aeroporto Dois de Julho [chamado na época, insistentemente pelos baianos, de Aeroporto de Ipitanga, sua antiga dominação], somente decolou para a capital pernambucana por volta das 20 horas. O tempo fechado e o vento forte provocaram seguidos adiamentos do voo.

Apesar de cansado, sob estresse e com o astral baixo, o Bahia, diante de um público reduzido, surpreendentemente tomou a iniciativa do jogo e quase marcou com Biriba, aos 15 minutos, de dentro da pequena área. Falsa impressão.

Com uma atuação soberba do meia Bentancor [fez um gol antológico em Nadinho, da intermediária, emendando, com perfeição e violência, uma bola a meia altura], um sereno Sport foi, sem pressa e com pouco esforço, construindo o elevado placar de 6 x 0.

Na fase inicial, Osvaldo, que já marcara na terça-feira anterior, dia 27 de outubro, na Fonte Nova, fez dois gols: aos 18 e 34 minutos. O primeiro, aproveitando uma defesa parcial de Nadinho, após um forte arremesso de Bentancor, e o segundo, de letra, numa bola dividida com Leone, que acabou contundido seriamente e substituído por Florisvaldo.

Zé Maria, o capitão do time rubro-negro


Nadinho se mostrava inseguro e, na confusa defesa baiana, salvava-se o zagueiro de área Henrique. Envolvido por Bentancor, Flávio não repetia as boas atuações recentes, o mesmo acontecendo com Ari, o que deixava o meio de campo fragilizado.

No ataque, à exceção de Marito, todos se exibiam mal, principalmente Alencar, que prendia demasiadamente a bola.

A vantagem do Sport já poderia ser até maior no primeiro tempo, caso o atacante Osvaldo não perdesse uma boa oportunidade, aos 23 minutos, e Leone, aos 25, não evitasse um gol de Bé.

O placar também esteve perto de ser ampliado em mais duas ocasiões: num pênalti de Leone, no irrequieto Bé, não marcado pelo juiz baiano Cavalcante de Brito (26), e numa ótima chance desperdiçada por Traçaia, depois de um lançamento preciso de Osvaldo, aos 31.

Abatido, sem ânimo, o time baiano retornou para a fase complementar com Beto na lateral direita, Florisvaldo efetivado na esquerda e os mesmos equívocos da etapa inicial, como o de manter a tática de provocar o impedimento adversário. (27).

O primeiro momento de perigo, entretanto, foi do Bahia. Aos cinco minutos, Biriba obrigou Dick a fazer uma difícil defesa. O Sport quase fez 3 x 0, aos 12 minutos, com Traçaia, não fosse a pronta intervenção de Nadinho, que mandou a bola para escanteio.

No lance seguinte, os pernambucanos reclamaram novamente da arbitragem, que deixara de marcar um outro pênalti em Bentancor, empurrado dentro da área. Traçaia, aos 14 minutos, numa tabela com Bé, fez o terceiro e Osvaldo, que deslocado para a direita perdera um gol feito aos 18, marcou o quarto do Sport, de cabeça, aos 19, e se transformou no artilheiro da tarde.

O Bahia ameaçou diminuir, aos 29 minutos, numa saída em falso de Dick, que o zagueiro de área Cido, um dos destaques pernambucanos ao lado de Ney Andrade e de Osvaldo, conseguiu salvar. Bentancor, aos 36, e Bé, aos 39, completaram a goleada na Ilha do Retiro.

Traçaia deu muito trabalho à  defesa do Bahia


Até a imprensa esportiva do Recife ficou surpresa com a goleada e com o apático futebol do Bahia e, dentro do maciço noticiário sobre a partida, até um elogio para os baianos: apesar do vexame, em momento algum os jogadores apelaram para a violência.

NOTAS

26) José Cavalcante de Brito, caboclo com pernas compridas, era sargento do Exército e, durante muito tempo serviu no Colégio Militar de Salvador, onde atuava, como instrutor de Educação Física.

27) Sistema ironicamente denominado pelo jornalista e treinador João Saldanha, nos anos 70 do último século, de linha burra por permitir que, na falta de sincronia dos zagueiros, os atacantes adversários ficassem sozinhos diante do goleiro, com claras chances de marcar.

FICHA TÉCNICA
Dia: 30 de outubro, sexta-feira (Feriado do Dia do Comerciário)
Local: Recife
Estádio: Adelmar da Costa Carvalho (Ilha do Retiro)
Renda: Cr$ 155.570,00
Público: não divulgado
Juiz: José Cavalcante de Brito, da federação Bahiana de Desportos Terrestres
Auxiliares: José Teixeira de Carvalho e Evandro Ferreira, ambos da Federação Pernambucana de Futebol.
Goleadores: Osvaldo, aos 18 e 34 minutos do primeiro tempo e aos 19 do segundo, e Traçaia, aos 14, Bentancor, aos 36, e Bé, aos 39 do segundo tempo.
Sport: Dick, Bria, Cido, Dedé e Ney Andrade; Zé Maria e Bentancor; Traçaia, Bé, Osvaldo e Elcy.
Bahia: Nadinho, Leone (Beto), Henrique, Vicente e Beto (Florisvaldo); Flávio e Ari; Marito, Alencar, Leo e Biriba.  


   


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