Literalmente, o Náutico ressurgiu das cinzas
Corria
o ano de 1949, quando uma tragédia abalou a família alvirrubra. No dia 29 de
novembro, uma sexta-feira, por volta das quatro e meia da tarde, rolos de
fumaça começavam a ganhar os céus, na Avenida Conselheiro Rosa e Silva.
Um
incêndio prorrompera no casarão que servia de sede para o Clube Náutico
Capibaribe. Jogadores treinavam observados pelos habituais frequentadores dos
treinos e saíram em debalada carreira, quando Ivanildo, um líder entre os
atletas, foi advertido por Jaime de Brito Bastos, o irrequieto Jaime da
Galinha, de que seu quarto estava pegando fogo.
A sede antiga destruída por um incêndio |
Ivanildo,
chamado de Espingardinha pelos companheiros por causa de seu porte físico, pois
era bastante esguio, tem seu nome inscrito na galeria alvirrubra, como um dos
maiores e mais dedicados jogadores que já passaram pelos Aflitos. Dentro e fora
de campo exercitava com muita personalidade seus pendores de liderança.
O
atacante, que ao longo de sua trajetória esportiva viria a ser uma espécie de
pau para toda obra, jogando nas mais diferentes posições, de acordo com a
necessidade do time, procedia de Garanhuns, no Agreste Meridional de
Pernambuco, a 209
quilômetros do Recife. Tinha vindo para a Capital com a
dupla finalidade de jogar pelo Náutico e estudar. Com o irmão Liberato, morava
no primeiro andar da sede.
Naquela
tarde infortunada para o Timbu, as pessoas presentes ao clube, torcedores,
jogadores e funcionários, fizeram todo o esforço possível para conter as chamas
que se propagavam com extrema velocidade e, principalmente, salvar o que pudessem,
como troféus, documentos, etc.
A
notícia rapidamente espalhou-se pela cidade, atraindo para os Aflitos, os
dirigentes da época. Pouco tempo depois estava lá, avaliando os prejuízos, o
‘pajé’ Eládio de Barros Carvalho, acompanhado de seu estado-maior: Roberto
Campos, Vanildo Antunes, Iran Inojosa, Carlos Guimarães, Fernando Wanderley,
Otávio Batista, Célio Tavares – o popular Cleo, narrador da Rádio Clube de Pernambuco,
Baby Rosa Borges, Francisco Pessoa Xavier, Raif Ramalho, Luiz Melo Rego e
outros.
O palacete da Av. Conselheiro Rosa e Silva surgiu altaneiro, quatro anos após a tragédia |
O
Corpo de Bombeiros fez o que estava ao seu alcance e Eládio prometeu fazer o
Alvirrubro ressuscitar, como uma Fênix saindo das cinzas. Ali mesmo, sobre o
solo ainda ardente, o presidente alvirrubro lançou uma campanha no sentido de
angariar a ajuda dos alvirrubros, com o objetivo de erguer uma nova sede. O que
restou do velho pardieiro foi demolido. Através de bingos, sorteios, doações, o
baixinho Eládio pôde construir o que passou a ser chamado de palacete da
Avenida Rosa e Silva, em linhas bastante avançadas para a época.
FALA IVANILDO
Ainda
sob a emoção do sinistro, causado por um curto-circuito, segundo a Polícia
Técnica, Ivanildo Souto da Cunha escreveu um depoimento do qual publicamos
alguns trechos:
“Dia
09
Incêndio
no NÁUTICO...e no meu quarto! Eram precisamente 16h30. Treinávamos futebol.
‘Nido,
teu quarto está pegando fogo’, gritava desesperado Jaime da Galinha, correndo
em nossa direção.
Assim
começou o drama!
Abandonei
o campo à toda, acompanhado de todos que lá estavam...Meu quarto ardia, bem
como o dormitório dos atletas, num espetáculo Impressionante. Pensei
entrar...Desisti!
No
parágrafo final do seu artigo, prometia Ivanildo:
“O
nosso NÁUTICO levantar-se-á. Sua glória e tradição já se tornaram patrimônio de
todos os pernambucanos! No futuro,
quando se pensar ou disser que o NÁUTICO foi destruído pelo fogo, com certeza
acrescentar-se-á: as chamas auxiliaram na tarefa de demolir aquele velho prédio.
Haja o que houver, temos uma tradição e um patrimônio a defender! Não nos
esqueçamos jamais de que o que temos presente é fruto de muitas lutas, muito
sacrifício e – sobretudo – muita força de vontade de todos aqueles que
construíram o corpo social do CLUBE NÁUTICO CAPIBARIBE em toda sua gloriosa
existência.”
NOVA SEDE
Todos
os esforços foram realizados pelos alvirrubros, à frente o presidente Eládio de
Barros Carvalho, Doações foram feitas, acompanhadas das mais diferentes
campanhas, e num período de quatro anos o clube dos Aflitos ressurgia das
cinzas, com a inauguração da nova sede, que passou a ser chamada pela imprensa
de Palacete da Avenida Conselheiro Rosa e Silva.
O
detalhe é que o clube, com o objetivo de fazer algumas reformas na velha sede,
vinha realizando sucessivos bingos, com a participação de seus sócios, os quais
prosseguiram, da maneira mais intensa, com a nova finalidade de reeguer aquela
parte importante do patrimônio do mais antigo entre os clubes que praticam
futebol em Pernambuco.
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