Um episódio marcante na história e no folclore do
futebol pernambucano foi protagonizado pelo desportista José Neves, na época em
que ele exercia a presidência do Santa Cruz Futebol Clube. Foi quando ele cravou
a bandeira do Santa em pleno círculo central do gramado da Ilha do Retiro,
quando a equipe das três cores comemorava mais um título de campeão
pernambucano, alcançado ali e diante do dono da casa, o Sport Club do Recife.
O Santa Cruz acabara de obter o título após uma
encardida disputa com o Sport, que terminou empatada em 0 x 0. Como o Santa só
precisava empatar, o povão fez a festa.
O jogo teve 37.075 pagantes. Arbitragem de Aristóteles
Cantalice. O Santa Cruz foi campeão com Birigui, Marco Antônio, Lula, Ivan e
Lotti; Zé do Carmo, Rommel e Neto (Evaristo); Marlon, Jarbas e Tiziu.
Torcedores do Santa comemorando, enquanto os do
Sport mostravam-se resignados. Era o dia 10 de agosto de 1986. Nessa época
havia paz nos estádios. Ninguém era agredido pelo simples fato de estar
comemorando a vitória de seu time.
De repente, tricolores e rubro-negros espalhados
pelas arquibancadas da Ilha tiveram a atenção despertada pela trajetória que Zé
Neves, “o presidente arretado”, como era chamado, ia fazendo por dentro do
campo, carregando uma enorme bandeira de seu clube. Quando menos se esperava,
ele fincou o pavilhão coral no terreno inimigo.
A torcida do Santa Cruz vibrou intensamente, como
se Zé Neves estivesse marcando o gol do título. O assunto foi assunto durante
vários dias nos órgãos midiáticos.
Em 2012, ele prestou este depoimento ao jornalista
Cássio Ripoli, titular do Blog dos Esportes, do Diario de Pernambuco:
“Nos dias de hoje a violência impede tal
irreverência. Estava no túnel aguardando o fim do jogo. Quando consegui subir,
corri para onde estava a torcida do Santa Cruz. Alguém me passou uma bandeira
com um mastro por cima do alambrado. Saí correndo e os policiais foram me
acompanhando. Fez-se um silêncio no estádio durante um instante. De repente me
vi no meio do campo e finquei a bandeira. Foi como se estivesse marcando o
território. A torcida tricolor foi à loucura. O gesto eternizou a conquista.”
Eis outro comentário do ex-presidente tricolor, agora
para o livro Santa Cruz de Corpo e Alma:
“Não foi premeditado. Não tinha como ser, pois ninguém esperava aquilo. Quando peguei a bandeira e vi que era muito pesada, pensei: ‘o que vou fazer com essa bandeira aqui?’. Aí, eu lembrei dos filmes de guerra, quando os soldados conquistavam territórios fincando a bandeira. Peguei a bandeira e fui levando, num trote leve. Quando percebi o silêncio das torcidas não teve jeito. Vi a bolinha do centro do gramado. Finquei a bandeira ali. A minha torcida foi ao delírio. Foi muita revolta do outro lado (rubro-negros), mas sem confusão alguma, rapaz. Eram outros tempos.”
“Não foi premeditado. Não tinha como ser, pois ninguém esperava aquilo. Quando peguei a bandeira e vi que era muito pesada, pensei: ‘o que vou fazer com essa bandeira aqui?’. Aí, eu lembrei dos filmes de guerra, quando os soldados conquistavam territórios fincando a bandeira. Peguei a bandeira e fui levando, num trote leve. Quando percebi o silêncio das torcidas não teve jeito. Vi a bolinha do centro do gramado. Finquei a bandeira ali. A minha torcida foi ao delírio. Foi muita revolta do outro lado (rubro-negros), mas sem confusão alguma, rapaz. Eram outros tempos.”
FALA O
PORTADOR DA BANDEIRA
O na época contínuo Marcos Antônio de Souza,
chamado de Marquinhos do Pina, para diferenciá-lo de dois homônimos existentes
na torcida organizada Santamente, participou diretamente do acontecimento e
conta o fato desta maneira:
Eu era membro
da torcida organizada Santamante. Na época, o nível das pessoas que fazia
torcida organizada, era universitário. Eram todos muito ordeiros, diferente dos
dias atuais. Faltavam 10 minutos para o jogo acabar. Na época, as arquibancadas
eram divididas meio a meio. Jogo final na ilha do retiro, a Santamante estava
na arquibancada na linha do meio campo. Fiz uma aposta com um amigo da torcida.
Se a gente fosse campeão, iria pular o arame farpado e balançar a bandeira da
Santamante para nossa torcida. Tentei pular a primeira vez, o arame farpado
pegou na minha canela e deu um profundo corte. Tenho esta cicatriz até hoje. Esperei
outra oportunidade, mesmo com a perna sangrando. Foi quando o Sport apagou os
refletores. Consegui pular. Quando olho para trás, muitos gritos “solta a
bandeira, tricolor.” Era Zé Neves. Entreguei a bandeira a ele e ele fincou a
bandeira do Santa Cruz em plena Ilha do Retiro. Nunca quis me reportar sobre o
fato. Com o passar do tempo um amigo falou para Zé Neves. Ficamos amigos. Hoje
em dia, Zé diz que foi Marquinhos, tricolor do Pina, quem ‘me entregou a
bandeira.’ Agora em 2019 vai fazer 33 anos de uma grande façanha do nosso
futebol.
José Neves Filho foi
presidente do Santa Cruz nos biênios 1985/86, 1987/88 e 2003/2004.
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