João Avelino era um técnico paulista bastante
rodado, com jeito caipira, que trabalhou numa infinidade de clubes no Brasil,
inclusive no Náutico. Esteve nos Aflitos em 1973, época em que o comerciante
Sebastião Orlando dava as cartas no Alvirrubro. O Náutico, depois de ter sido
hexacampeão pernambucano (1963 a 1968). O treinador também era conhecido por 71.
Este era seu número de inscrição, quando com 22 anos cursou o Senai. Virou
apelido.
João Avelino falava pelos cotovelos.
Uma verdadeira matraca. Uma das suas características eram as frases folclóricas
e inesperadas.Vejamos algumas:
– O grande segredo é que não há
segredo.
– Futebol não é força, é jeito.
– Tem jogador que só entra na área em
dia de pagamento.
– Hoje, jogador não dá vexame na mesa,
sabe falar, mas lá no campo...
– Vamos jogar no esquema do
guarda-chuva: abrir no ataque, fechar na defesa.
– Sou um grande técnico, só me falta o
rótulo.
– Não falo cinco idiomas, só entendo
futebol. É pouco pra Seleção.
– A escolinha do São Paulo é muito bonitinha e
enfeitada. Lá o garoto aprende a comer de garfo e faca e a usar o guardanapo,
anda sobre tapetes, é obrigado a estudar. Mas, na hora da bola, uma grande
parte é de dar dó.
– Podem vir quentes que eu estou
fervendo – disse, parafraseando o Rei Roberto Carlos, ao ser apresentado aos
jogadores, como o novo técnico do Náutico.
Um dos clubes que João Avelino dirigiu
foi o Remo, hoje fora de foco por estar há muito tempo distante das duas
principais divisões do futebol brasileiro, a A e a B. Mas naquele tempo, o Leão
Azul disputava o Nacional, ou o Campeonato Brasileiro com outro formato.
Catimbeiro e escolado na guerra do
interior de São Paulo, João Avelino marcou época no futebol brasileiro com seus
lances de esperteza.
Quando chegou a Belém, notou que o campo
do Baenão, o estádio do Remo estava sendo reformulado.
– O que é que vocês tão fazendo? – quis
saber.
– Estamos arrumando e melhorando tudo.
Afinal, agora disputamos o Campeonato Brasileiro – responderam-lhe.
– Nada disso. Vamos diminuir mais o
campo e fazer bastante buraco, disfarçando com areia. Lá no Sul estão
acostumados a jogar em campinhos bonitinhos e não podemos dar essa colher de chá
a eles.
Notando que seu goleiro Dico era
baixinho, Avelino mandou diminuir a altura das traves. Foi assim que o Remo
conseguiu alguns bons resultados, jogando em seu campo, como uma vitória por 2
x 0 sobre o então poderosíssimo Flamengo, dirigido por Zagallo. O treinador do time
paraense ria com as críticas de Zagallo, que além de dirigir a equipe da Gávea
comandava a Seleção Brasileira:
– Não estou preocupado se o goleiro
adversário vai bater com a cabeça no travessão. Minha preocupação é que meu
goleiro alcance o travessão.
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